domingo, 28 de abril de 2013

20 Km de Lausanne

A culpada por me fazer embarcar nessa indiada foi minha amiga Laura. Ela é super-animada pra esse tipo de coisa e acabou me convencendo a me juntar a ela nessa corrida. 

A Laura é magrinha, baixinha, mas super em forma. Ela tem aqueles genes pra corrida: depois do inverno, a primeira "corridinha" que ela fez foi de 7 km em 40 minutos. Enquanto isso, minha primeira corrida/treino durou 10 minutos e eu estava morrendo. Mesmo ontem, no dia da corrida, ela não treinava a 15 dias e fez um ótimo tempo, me deixando pra trás nos primeiros 2 km. Eu já sabia que ia ser assim. No único treino que fizemos juntas, ela puxava um ritmo pesado lomba acima enquanto eu só sonhava com uma escada rolante. 

Chegamos ao local da corrida 1h30 antes da nossa largada pra pegar nossos kits de corrida (chip com GPS - pra detectar se algum corredor resolver fazer uma "rota alternativa", camiseta, boné, protetor solar, etc). Depois de uma semana com tempo maravilhoso, o sábado amanheceu nublado e frio. Por volta das 17h (horário da corrida), começou uma chuvarada pesada, com muito vento pra acompanhar. Resultado: sensação térmica de 4ºC e nós na largada só com camiseta (ensopada, só pra constar). O boné serviu pra evitar a chuva direto nos olhos em vez de nos proteger do suposto sol de primavera. 

A largada foi muito divertida! Pra evitar que as pessoas saiam correndo antes do início da corrida, o time de futebol americano (todo vestido com o uniforme oficial) ficava fazendo uma barreira humana. Após o tiro da largada, eles são os primeiros a despontarem para um recuo ao lado da linha de largada. Muito engraçado. 

Adorei as pessoas gritando e incentivando durante o percurso. Mesmo nos lugares mais distantes e esquisitos da corrida, os moradores desciam de suas casas e iam se abrigar nas paradas de ônibus para saudar os corredores. 

Outra coisa divertida foi poder correr nas ruas mais movimentas de Lausanne e parar todo o trânsito da cidade. Foi um caos, mas a gente se sente importante nesses momentos. Pelo menos uma vez por ano os pedestres colocam os carros em segundo plano. 

A pior parte foram as subidas. Lausanne não é uma cidade exatamente plana, e o percurso da corrida não é dos melhores. Na real, ela é até classificada como dificuldade 5 (a menor dificuldade em subidas, porém a dificuldade 0 é considera a melhor por não ter subida alguma). Mesmo assim, foram o equivalente a um prédio de 20 andares lomba acima. 

A interação do público com os corredores foi algo que mais me chamou atenção. Eles liam o teu nome na placa de corrida e gritavam, te incentivando a continuar. Na entrada do parque, duas meninas começaram a correr junto comigo por uns 100 metros gritando incentivos. Crianças também estavam espalhadas pelas calçadas em quase todo percurso. Elas se divertiam esticando a mão pra que os corredores batessem ao passar. Muitas delas tinham participado da corrida infantil que aconteceu mais cedo naquele mesmo dia. Eu pude acompanhar a largada de algumas categorias. Olhem as fotos aí:



Pouco antes da corrida teve o aquecimento em massa:


Depois era só se aglomerar na largada de acordo com seu grupo de tempo:


Até ali tudo são flores. 21 mil pessoas numa atmosfera de pura adrenalina. Depois, quando a subida, o frio e a chuva começaram a apertar, aí a coisa apertou. Depois do primeiro checkpoint, onde recebemos água e isotônico, a coisa ficou realmente feia (mais do que já estava). A cada quadra tinha um atleta desmaiado na calçada, tremendo de frio, com dor ou sei lá o que. As equipes de emergência do hospital estavam super-ocupadas, assim como os bombeiros e toda a equipe de enfermeiros e médicos voluntários. Eu admito que estava morrendo de medo de ter um troço. Não sentia meus braços e não podia mexer minhas mãos por causa do frio. Cada esticada de braço era dolorosa e pareciam facas atravessando meus músculos. O ar gelado queimava meus pulmões a cada inspiração. Minhas pernas estavam me matando. Nem sabia que existiam tantos músculos assim pra doer. Sem falar no meu pé. Bah, que dor no meu tendão. E o medo de ter uma parada cardíaca?! Não teve essa semana um menino de 14 anos que teve uma parada jogando tênis até a exaustão? E eu estava bem perto da exaustão. Mas continuei. Ignorei tudo e fui em frente. 

A chegada foi ótima. Foi um momento épico na minha vida. Eu nunca achei que fosse capaz de algo assim. Superei meus limites e minhas próprias expectativas. Recebemos isotônico e frutas para comer. Mas eu só queria vomitar mesmo... bom, eu e mais metade dos atletas. 

Os bastidores da chegada pareciam uma zona de guerra. Pessoas desmaiadas, exaustas, vomitando, muita gente com hipotermia recebendo aqueles cobertores de alumínio, gente mancando, sendo carregado, pessoas tirando as roupas molhadas na cobertura do estádio e se enrolando em toalhas secas pra não congelar...
Mas eu estava feliz por ter terminado a corrida sem maiores problemas. Sim, eu estava exausta e congelada, mas orgulhosa de mim mesma. Minha posição? 2860º (ou 20º lugar de baixo pra cima) na minha categoria. Foi um tempo terrível? Foi, mas também foi muito melhor do que 1500 pessoas que largaram e nunca chegaram ao final. Minha meta era completar a corrida, fosse correndo, caminhando ou rastejando. Eu queria completar. Desistir jamais! Como eu disse no último post, já estava toda dolorida mesmo, então aproveita e já faz um pouco mais de esforço pra pegar aquela medalha no final.

Chegando em casa no final da corrida, tive o banho mais doloroso da minha vida. Eu estava tão gelada que a água fria do chuveiro me queimava insuportavelmente. Demorei quase uma hora pra fazer minhas mãos ganharem cor de novo. 

Mas foi divertido! Não sei se faria de novo, mas certamente pensarei a respeito.


Obrigada a todos e especialmente à Laura por terem me incentivado a participar e a não desistir nunca!

Beijos, pessoal!

2 comentários:

  1. Parabéns pela "garra". Tenho muito orgulho de ti. Bjus

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  2. Adorei as crianças!! Que fofas! Dá pra ver que a cidade para pra apoiar os corredores!

    Como assim grupo de tempo? Tu já sabe de antemão? Como? Haha

    Mas que tristeza, pobres dos corredores... Ainda bem que tu já tinha treinado, imagina se não! É muito desgaste... É interessante ler tuas preocupações, quase um fluxo de consciência ;)

    Parabéns, Pati! Tu sempre foi um exemplo de garra, coragem e persistência. Quem sabe da próxima um pouco menos de quilômetros, já pra treinar?

    Beijos!

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