quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

A grande polêmica da ração sem grãos


Aviso: eu não sou veterinária. Meu único superpoder é a habilidade de ler artigos científicos e extrair informações úteis que podem ser aplicadas a esse tema. Se o seu veterinário indicou uma dieta específica para o seu pet, siga suas recomendações!


Oi galera!

Se você é um dono bem informado, já deve ter ouvido falar a respeito das rações sem grãos e sobre todos os supostos malefícios de uma alimentação com grãos para o seu gato ou cachorro. Ou talvez você ainda não ficou sabendo disso. Independentemente, apertem os cintos porque vamos discutir essa polêmica juntos, baseando-nos em estudos científicos.


O que vamos abordar nesse artigo?


Por que as alegações contra a ração com grãos são besteira
Quais os possíveis benefícios reais de uma dieta sem grãos
A associação da dieta sem grãos a problemas cardíacos
Mas e os efeitos da alta quantidade de proteína nos rins?
Fique de olho na lista de ingredientes da ração
Que tipo de ração faz sentido comprar


Introdução

Desde 2010 para cá, as empresas encheram as prateleiras dos supermercados e pet shops com rações sem grãos, naturais, sem organismos geneticamente modificados e teoricamente mais biologicamente apropriadas para os nossos cães e gatos.


As empresas que vendem essas rações usam várias estratégias de marketing para fazer com que nós, os pais preocupados, comprem seus produtos. Algumas informações mais usadas são as seguintes:
1.     Os grãos não fazem parte da dieta normal dos ancestrais dos gatos e dos cachorros (o gato selvagem e o lobo, respetivamente).
2.     O gato e o cão são carnívoros e devem se alimentar somente de carne.
3.     O gato e o cão não digerem bem grãos e carboidratos.
4.     Os grãos são responsáveis por várias doenças nos nossos pets.
5.     A ração “normal” contém subprodutos animais, que são feitos de restos de animais, penas, unhas, ossos, animais doentes ou mortos em acidentes.
6.     Os grãos causam alergias.
7.     Cães e gatos e comem ração sem grãos são mais saudáveis, tem mais energia e melhor pelagem.

 

Por que as alegações contra a ração com grãos são besteira

Com um pouco de tempo e sabendo pesquisar nos lugares certos, é fácil ver que essas afirmações são simplesmente incorretas. Vamos por partes, como diria Jack, o Estripador.


1.     "Os grãos não fazem parte da dieta normal dos ancestrais dos gatos e dos cachorros (o gato selvagem e o lobo, respetivamente)."


Mesmo que os ancestrais dos cachorros e gatos não comessem grãos, não quer dizer que os nossos pets não podem comê-los. Se isso fosse verdade, os homens não poderiam comer churrasco, visto que os nossos ancestrais (macacos e gorilas) comem somente pequenas quantidades de carne na forma de insetos. 

2.     "O gato e o cão são carnívoros e devem se alimentar somente de carne."


Os gatos e cachorros que conhecemos hoje evoluíram por milhares de anos, o que lhes deu muitas características únicas que não existem em seus parentes selvagens. Os caes são, de acordo com suas características genéticas, omnívoros. Ou seja, podem comer de tudo como nós.

Os gatos ainda são considerados carnívoros, mas não carnívoros exclusivos.  Um estudo fantástico feito em 2013 pôde responder algumas perguntas interessantes sobre a alimentação dos gatos. Por 7 dias, os gatos receberam várias opções de comida simultaneamente. Eles foram divididos em vários grupos, de acordo com as opções de comida que receberam: 
Experimento 1: 1 opção de comida seca (ração) e 3 opções de comida úmida (sachê)
Experimento 2: 3 opções de comida seca (ração) e 1 opção de comida úmida (sachê)
Experimento 3: 3 opções de comida seca (ração) e 3 opções de comida úmida (sachê)
Experimento 4: 1 opção de comida seca (ração) e 1 opção de comida úmida (sachê)

Cada opção de comida tinha níveis diferentes de proteína, gordura, carboidrato e umidade. Os pesquisadores esperavam que os gatos que tivessem mais opções de comida umida (com mais proteínas), iriam comer mais proteínas (partindo do princípio de que eles são carnívoros). Os gatos também podiam escolher comer somente proteínas e gorduras, já que alguns sachês tinham somente 2% de carboidratos.
Mas não foi o que aconteceu! Os gatos em todas as dietas consumiram, em média, a mesma quantidade de proteínas, gordura e carboidratos. Isso quer dizer que, quando tem a opção de escolher livremente sua dieta, os gatos são capazes de regular exatamente quanto desses macronutrientes precisam, e também escolhem por vontade própria comer carboidratos.
Os resultados da pesquisa mostram que os gatos preferem uma dieta com: 55% de proteína, 21% de gordura e 24% de carboidrato.
Com esses resultados, uma coisa fica muito clara: nenhuma ração seca é capaz de suprir 100% das necessidades dos gatos, já que as raçoes com a maior quantidade de proteína têm, em média, 40% de proteína. A solução? Dê sachê, patê, atum ou peito de frango pro seu gato! 


3.     "O gato e o cão não digerem bem grãos e carboidratos."



O experimento descrito acima já serve para desmascarar essa ilusão. Se gatos e cachorros não digerissem bem carboidratos, ia ser a festa da diarreia na sua casa.

Comparados com os lobos, os cachorros têm várias copias a mais de genes que os possibilitam digerir carboidratos. Os cães têm inclusive amilase (enzyme que digere amido) na saliva, assim como os humanos! Durante a evolução dos cães, 10 genes foram especialmente selecionados para ajudar nossos cachorros a digerir melhor carboidratos e gorduras (Fonte).


Os gatos também evoluíram para digerir carboidratos melhor que seus ancestrais, cuja dieta consiste somente em 2% de carboidratos. Gatos conseguem digerir 40-100% dos carboidratos, dependendo da forma como esse carboidrato é produzido. Os cachorros têm ainda mais enzimas para digerir carboidratos que os gatos (Fonte).

Além da seleção genética, há outras pistas evolutivas indicando que tanto gatos como cães estão preparados para comer carboidratos: o comprimento dos seus intestinos (mais longos para melhorar a digestão e absorção de carboidratos) e dentes molares e pré-molares mais planos que seus primos selvagens (Fonte)

Portanto: cães e gatos conseguem digerir carboidratos, sim senhor.

4.     “Os grãos são responsáveis por várias doenças nos nossos pets.”



Carboidratos em quantidades razoáveis são benéficos para os nossos pets. A glucose, produta da digestão dos carboidratos, é fonte de energia rápida e preferida pelo cérebro dos nossos pets (e pelos nossos cérebros também). A definição de quantidade razoável é que é o problema. Para gatos, 25% é considerado ideal, mas há discrepância entre os resultados para cachorros, mas parece que no máximo 50% (incluindo 2.5 – 4.5% de fibras) é recomendado (Fonte). Entretanto, até 70% da ração canina e 50% da felina é carboidrato. 🙀


Carboidratos são digeridos e absorvidos como glicose (“açúcar”) e vão parar no sangue. A rápida digestão e absorção de glicose levam ao aumento muito rápido da glicose no sangue que, se não utilizada rapidamente pelos músculos para correr ou brincar, acaba sendo armazenada na forma de gordura. A queda na quantidade de glicose no sangue leva o animal a sentir fome novamente e o ciclo continue. Isso causa o aumento de peso, diabetes, reumatismo, doenças cardíacas e renais, etc. Estima-se que mais de 50% dos animais de estimação em países industrializados sejam obesos ou tenham sobrepeso. As proteínas são digeridas, absorvidas e, se necessário, convertidas em energia muito lentamente, levando a uma concentração de glicose mais constante no sangue e gerando saciedade mais longa.


Mas o que os grãos têm a ver com isso?

Grãos são carboidratos e por isso considerados vilões de tantas doenças. Muita gente acredita que dando ração sem grãos para seus pets eles estarão consumindo menos carboidratos. ENTRETANTO, isso não é verdade. A ração sem grão pode ter até mais carboidratos que a ração normal. Isso porque os produtores simplesmente substituem o grão por outro carboidrato, como a batata, cenouras e abóbora. Por que não substitutir os grãos por proteínas? Por duas razões: (1) o produto fica mais caro, e (2) não é possível fazer uma receita com muita proteína virar os pedacinhos de ração seca que conhecemos sem adicionar ainda mais ingredientes artificiais.

A solução? Dê sachê, patê, atum ou peito de frango pro seu pet! Essas comidas contêm pouquíssimo carboidrato e muita proteína. 


5.     “A ração “normal” contém subprodutos animais que são feitos de restos de animais, penas, unhas, ossos, animais doentes ou mortos em acidentes.”


Sim. E não. 
Tanto a ração com grãos quanto a sem grãos pode conter subprodutos animais. PONTO.
Os subprodutos não são necessariamente vilões, pois contêm:

·      Farinha de sangue: rica em proteína e ferro.

·      Farinha de ossos: rica em cálcio e fosfato.

·      Vísceras: ricas em proteínas e gorduras.

·      Cérebro: rico em ômega-3.

·      Carcaças: mistura dos itens citados acima, ricas em proteínas.


O que assusta os pais de pets é a possível presença de penas, unhas, bicos, animais mortos nas estradas ou eutanasiados por estarem doentes. Vamos por partes:

Unhas e bicos estão realmente presentes nos subprodutos, mas se você imaginar uma galinha vai notar que as unhas e o bico compõem uma percentagem bem pequena. As unhas e os bicos também são ricos em queratina, uma proteína (depois de reclamar dos subprodutos animais você vai lá e compra creme anti-rugas com queratina).  😜

Penas podem também ser usadas, mas são normalmente usadas em outros produtos por sua baixa digestibilidade.

Animais mortos nas estradas: você já imaginou se o DNIT fosse pegar todas as vacas, cachorros, gatos, cobras, ratos e guaxinins que são atropeladas nas estradas brasileiras e os levasse para camara de refrigeração para depois vender esses animais para as fabricas de raçao? É muita mão. Isso não acontece. E não é permitido.

Animais eutanasiados: sim, isso existe em pequena proporção. Provavelmente o seu veterinário de bairro não vende as carcaças para a indústria da ração, mas quando da grande mortandade de gado ou galinhas, por doença ou desastre natural, isso pode acontecer. Não sei se isso acontece com frequência no Brasil. Nos Estados Unidos, sabe-se que algumas clínicas e hospitais veterinários maiores vendem as carcaças para produção de ração. Em 2018 houve um grande escândalo, com várias marcas de ração sendo recolhidas após o FDA encontrar pentobarbital (anestésico usado também para eutanásia) em amostras de comida de cachorro.


Apesar de parecer que os subprodutos incluem todos os “restos” da produção de carne para consumo humano, eles não podem conter animais mortos nas estradas, dentes, cascos, chifres, fezes ou pelos.

Muitos pais de pets não querem comprar comida com subprodutos animais, mas essa é a melhor maneira de se “reciclar” alguns restos da produção de carne. Os subprodutos contêm muitos minerais e nutrientes que a carne de músculo não nos proporciona. E imaginem se tivéssemos que criar gado e frango para alimentar todos os 600 milhões de gatos e 900 milhões de cães no planeta somente com carne?

Além disso, vocês já viram um gato comendo um camundongo? (Procurem no YouTube). Ele come absolutamente tudo, incluindo as vísceras e ossos. Portanto, os subprodutos podem ser parte de uma dieta saudável dos nossos pets.

ENTRETANTO, os subprodutos animais contêm menos proteína, ferro e taurina (um aminoácido essencial para os gatos) que o músculo esquelético ("carne"). Os gatos, ao contrário dos cachorros, não conseguem produzir taurina e dependem da presença desse aminoácido na sua alimentação. Por isso, muitas raçoes contêm taurina na sua formulação, principalmente se não contiverem carne de boa qualidade (somente subprodutos). Rações com carne alta quantidade não necessariamente terão taurina adicionada, então fique de olho na lista de ingredientes.

Eu particularmente não fujo dos subprodutos animais, mas não compro produtos em que os subprodutos são o principal (primeiro) ingrediente pois a carne dos músculos (e a taurina de origem natural) também é muito importante para os gatíneos e cachoríneos.

6.     “Os grãos causam alergias”.


De todos os cães alérgicos à alguma coisa, somente 10% deles são alérgicos a alguma comida. É muito mais comum seu bichinho ter uma alergia a pulgas, grama, poeira, ou outro componente do seu ambiente. 
Os ingredientes que mais causam alergias alimentares nos cães são (nessa ordem): carne bovina, derivados do leite, ovos, frango, cordeiro, soja, porco, coelho e peixe. Nos gatos, a ordem é a seguinte: carne bovina, derivados do leite, frango, ovos, milho, trigo e soja. Ou seja, é muito mais provável que seu animal pet tenha alergia a um produto animal do que aos grãos. Antes de sair procurando uma ração sem grãos para a suposta alergia do seu bichano, consulte um veterinário porque alergia a grãos é algo extremamente raro. A raça do seu cão também é fator importante na determinação do tipo de alergia: algumas raças são mais suscetíveis que outras a alergias alimentares.

7.     “Cães e gatos e comem ração sem grãos são mais saudáveis, tem mais energia e melhor pelagem”.


Eu nem sei o que responder a declarações desse tipo. Espero que até aqui tenha ficado claro que um pet que come proteína *animal* (proteína de milho e arroz não vale!) em quantidade e qualidade suficientes, que não se entope de carboidratos, que mantém um nível relativamente estável de glicose no sangue e recebe todos os nutrientes e minerais que precisa, vai ser saudável, ter energia e boa pelagem. Isso acontece independentemente da presença ou não de grãos na sua dieta. Do mesmo modo, um pet que come somente carne pode ter problemas como falta de cálcio, fosfato, ômega-3 e vitaminas (até por isso se aconselha dar suplementos para cães e gatos em dietas de carne crua exclusiva).

Os possíveis benefícios reais de uma dieta sem grãos


1.     Baixo teor de carboidratos:


Em geral, a raçao sem graos possui menos carboidratos do que a raçao com graos. Mas atenção: há exceções


A parte difícil é saber exatamente quanto de carboidrato uma ração tem. Vocês já perceberam que os carboidratos não estão listados na composição da ração? Para calcular essa quantidade, então, deve-se somar todos os outros nutrientes e ver o que falta para que a composição seja 100%. Exemplos:


Ração Royal Canin Gatos Indoor

Proteinas (25%) + umidade (8%) + Extrato Etéreo (gordura, 11%) + fibras (4.9%) + matéria mineral (8.1%) + minerais e vitaminas (<5%) = 62%. Isso quer dizer que há aproximadamente 38% de carboidratos nessa ração, acima dos 25% recomendados.

Se combinada com um sachê de alta proteína e baixo carboidrato todos os dias, essa rçao pode fazer parte de uma dieta saudável, embora eu prefiro uma ração com mais proteínas.      


Farmina N&D Prime Feline Frango e Romã (sem grãos)

Proteínas (44%) + umidade (8%) + Extrato Etéreo (gordura, 20%) + fibras (1.8%) + matéria mineral (8.5%) + minerais e vitaminas (<5%) = 87.3%. Isso quer dizer que há aproximadamente 12.7% de carboidratos nessa ração, abaixo dos 25% recomendados. Essa ração está no outro extremo da balança e eu não a usaria exclusivamente por longos períodos. Mas essa marca contém muitos ingredientes de alta qualidade, então por que não misturar com outra ração contendo mais carboidratos?


Você também pode procurar e comprar uma ração com 30-40% de proteínas e 20-30% de carboidratos.

2.     Ingredientes mais nobres


Via de regra, a ração sem grãos tende a ser mais “natural”, com menos conservantes e corantes, e conter menos (ou nenhum) subproduto animal. A presença de ingredientes associados ao câncer (veja abaixo) é também, via de regra, menos frequente nesses produtos. Mas vale a pena ficar de olho nos ingredientes mesmo assim.

3.     Possibilidade de controlar alergias


Como discutimos anteriormente, alergias alimentares são muito raras. Porém, em casos confirmados de alergia a algum ingrediente, é possível encontrar mais alternativas de ração sem esse ingrediente em raçoes sem grãos. Não estamos falando simplesmente em alergias contra o milho ou soja, mas também contra carne bovina ou de frango. É mais comum encontrar raçao à base de coelho e búfalo nas variedades sem grãos.  

Associação da dieta sem grãos a problemas cardíacos


Em julho de 2018 o FDA (Food and Drug Administration nos EUA, que seria correspondente à ANVISA no Brasil) lançou um alerta sobre a possível associação entre raçao sem grãos e cardiomiopatia dilatada em cachorros nos EUA. Em junho de 2019 o FDA publicou um relatório (não um estudo) mostrando o caso de 560 caes e 14 gatos com essa doença. A vasta maioria dos animais afetados consumiam raçao sem grãos (>90%), embora alguns consumissem raçoes de marcas que contém grãos, como Hill’s e Purina One.

A origem da doença é obscura e é provável que nunca encontremos o que está causando a cardiomiopatia. Os maiores suspeitos são os ingredientes exclusivos de dietas sem grãos, como ervilhas, lentilhas, grão-de-bico, sementes e outros legumes. Há também a possibilidade de que seja causada por desequilíbrio na quantidade de alguns aminoácidos (partes que formam as proteínas). O FDA ainda não sabe exatamente a causa da doença e não há motivo para pânico.

O que eu notei lendo esses relatos de caso, é que a maioria dos animais estava na mesma dieta (comendo sempre a mesma marca de ração) por muito tempo (anos!). Entao vou passar aqui a recomendação de TODOS os veterinários que já visitei: 

Não há uma ração perfeita. Todas têm excesso ou falta de algum nutriente ou mineral, até porque cada raça e indivíduo tem suas próprias necessidades. É importante variar a marca da ração para compensar essas diferenças e para que esses excessos ou deficiências não virem problemas crônicos. 

Assim, meus gatos recebem uma ração diferente a cada 2 ou 3 meses. Isso também evita com que eles fiquem “chatos” e só comam uma marca ou sabor específico. 

Mas e os efeitos da alta quantidade de proteína nos rins?


O maior discurso das pessoas que são contra a ração sem grãos é dizer que alta quantidade de proteína na dieta leva a problemas renais em cães e gatos.

Primeiramente, vamos relembrar que a ração sem grãos não contém necessariamente mais proteína (ou menos carboidrato) do que a ração com grãos (afinal, grãos também tem proteína).

Segundo, não há evidencia nenhuma de que o consumo de dieta rica em proteínas (mais de 40%) causa problemas renais em cães ou gatos. Repito: hoje, ano 2020, não há evidencia nenhuma de que o consumo de dieta rica em proteínas (mais de 40%) causa problemas renais em cães ou gatos.

Estudos que compilam vários estudos passados sobre o assunto (exemplo), mostram que, mesmo após 4 anos comendo ração com alto teor de proteína, cães não apresentam mais problemas renais que aqueles que comem poucas proteínas. A doença renal é multifatorial e não causada simplesmente pela dieta. Mas isso também não é desculpa para dar qualquer ração muito baratinha para o seu pet! A própria diabetes, que pode ser causada por raçoes com muito carboidrato, pode causar problemas renais.   

Em gatos, vários estudos também sugerem que não há relação entre quantidade de proteína na dieta e declínio da função renal. Nesse estudo, gatos saudáveis que receberam uma dieta com 58% de proteínas tiveram um aumento nos marcadores da função renal (albumina, ureia no sangue e ALT) em comparação com gatos na dieta com 28% de proteínas. Mas o aumento foi pequeno, dentro dos parâmetros normais e **esperados** como consequência do maior consumo de proteína.

Talvez seja benéfica uma dieta com menos proteína em animais já que tenham problemas renais. Esse estudo mostra que limitar o consumo de proteína pode diminuir a progressão de doença renal (causada artificialmente em laboratório) em gatos, mas esse outro estudo discorda e diz que não faz diferença nenhuma.

Pelo sim e pelo não, siga as recomendações do seu veterinário se seu pet estiver doente. A ração para problemas renais é muito mais que uma ração com pouca proteína e o melhor tratamento disponível: ela regula o pH do xixi, estimula a ingestão de mais água e limita a quantidade de fósforo e outros minerais que influenciam a formação de cristais na urina. Se seu pet for saudável, não há razão para fugir da ração com alto teor proteico, desde que a quantidade de outros nutrientes seja adequada.



Fique atentos aos ingredientes!


Aos invés de procurar por uma raçao sem graos, o melhor que você pode fazer pela nutrição do seu animal é ler a lista de ingredientes.


Ingredientes a evitar:


·      Milho, soja e trigo – produtos muito baratos com pouco valor nutricional em termos de qualidade de proteína e com alta quantidade de carboidrato. São usados para “encher” a ração, aumentar a quantidade proteínas em usar carne e tornar o produto mais barato.

·      BHA, BHT e Etoxiquina – conservantes e possíveis cancerígenos. Podem causar danos aos rins e fígado.

·      Carrageninas – uma goma usada principalmente em patês e sachês em geleia para dar consistência ao produto. Pode causar câncer.

·      Corantes artificiais – nem sempre dá pra evitar, mas é melhor não ter.

Ingredientes a querer:


·      Taurina: não é um ingrediente obrigatório se a qualidade da proteína principal usada na ração é excelente (carne de músculo), mas é bom ter.

·      Vitamina C e E: podem ser usadas como conservantes em vez do BHT e BHA. A vitamina C pode estar listada como ácido ascórbico.

·      Metionina ou DL-metionina: a adição de baixas quantidades desse aminoácido essencial é usada para acidificar a urina e prevenir alguns tipos de cristais. Também não é um ingrediente obrigatório. 


Que tipo de ração “especial” faz sentido comprar?


Até agora estabelecemos que o melhor é realmente variar a ração do seu cão e gato, sempre incluindo também a comida molhadinha, como os sachês. Não se deixe enganar pela embalagem e pelas promessas do produto! O melhor mesmo é comprar uma ração de boa qualidade e variar as marcas.

Porém existem momentos em que comprar uma ração especifica pode ser beneficial para os pets. Por exemplo:

·      Ração para problemas urinários: essas rações realmente funcionam e previnem a formação de certos tipos de cristais na urina. Devem ser usadas somente com recomendação do veterinário, pois o uso desnecessário pode causar problemas renais.

·      Ração para diminuir a formação de tártaro dentário: os pedaços desse tipo de ração são grandes e ajudam a polir os dentes e diminuir a placa. Problemas dentários só podem ser totalmente evitados com escovação diária, mas esse tipo de ração diminui a velocidade da acumulação de tártaro.

·      Ração para o controle de peso: tem menos calorias por grama de ração e dão mais saciedade, mas não funciona se você deixar o animal comer descontroladamente. Na realidade, se você der a quantidade recomendada de qualquer ração de boa qualidade (com poucos carboidratos) e estimular o seu animal a se exercitar, essa ração é desnecessária.

·      Toda ração recomendada pelo seu veterinário para algum problema de saúde do seu pet.


Cuidado ao comprar uma ração especifica para a raça do seu gato ou cachorro. Muitas vezes você acaba pagando mais sem necessidade. Pergunte a opinião do seu veterinário de confiança!


Conclusão:


Espero que esse artigo tenha ajudado a esclarecer algumas dúvidas sobre a ração com e sem grãos e ajudado você, pai de pet, a fazer boas escolhas no pet shop. 😊




terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Viagem internacional com três gatos na cabine? 🙀 Passo-a-passo.

 

Oi pessoal! Hoje vamos conversar sobre como fazer uma viagem internacional de avião com 3 gatos persas na cabine do avião e somente 2 adultos. Como eu tive muita dificuldade para achar todas a informações, achei válido escrever uma matéria sobre isso. Aproveitem. 😄

Aviso: eu não recebo comissão por nenhum produto indicado nesse blog. São somente sugestões de produtos que funcionaram bem para a nossa viagem. A escolha é sua.


CONSIDERAÇÕES GERAIS:


  • Viagens de avião com gatos devem ser feitas somente se extremamente necessárias.
  • Esse será provavelmente a viagem mais estressante da vida do seu gato. Ele pode até morrer. Não coloque seu animal (inclusive cachorro) em risco desnecessariamente.
  • Não leve seu gatinho consigo se for passar as férias longe de casa: encontre uma babá de gatos ou um amigo para cuidar dos seus bichanos. Estávamos nos mudando por muitos anos para os Estados Unidos e somente por isso trouxemos os gatos.


ANTES DO VOO:


- Ligue para a companhia aérea: muitas companhias não aceitam transportar gatos persas na cabine ou no compartimento de carga pelo risco de sufocamento. A Delta é uma dessas companhias. A Lufthansa é uma das poucas que aceitam levar persas como carga. Gatos e cães de nariz achatado podem morrer durante o voo por causa da baixa pressão de oxigênio dentro da cabine. No compartimento de carga então as chances de morte são ainda maiores! Eu não recomendo de maneira nenhuma despachar um gato persa como carga.

Pergunte para a companhia quantos animais podem viajar no mesmo voo e se o voo que você quiser reservar não está “lotado” de pets. Alguns aviões comportam somente 4 animais por voo, enquanto outros podem levar até 8. Se você tiver muitos animais, como eu, vale a pena ficar de olho nisso. Pergunte se você precisa fazer algo diferente no momento da compra da passagem. Normalmente você procede como sempre. Cada passageiro ADULTO pode levar até um animal na cabine, que deve ficar embaixo da poltrona à sua frente. Crianças não podem levar animais, mesmo se um adulto a estiver acompanhando. Se você tiver mais pets que passageiros, pergunte à companhia o que fazer. A United Airlines autoriza você a comprar uma passagem extra de adulto para o terceiro pet. A Delta não, então fique atento.


- Reserve o voo: reserve o voo normalmente para os dois passageiros e compre um assento extra se você tiver um pet a mais. Use os dados de um passageiro para comprar o assento extra, mas coloque o primeiro nome como “Extraseat”. O sobrenome, data de nascimento, etc, deve ser o mesmo de um dos passageiros. Sempre que possível, compre um voo direto, ou com o menor número de escalas possíveis, mesmo que seja mais caro. Seus pets agradecem.

Além disso, lembre-se que animais de nariz achatado podem ter problemas para respirar por causa da baixa pressão de oxigênio na cabine. Os novos Boeing 787 Dreamliner têm consideravelmente mais oxigênio na cabine que outros aviões. Nós tomamos o cuidado de escolher esse avião para transportar os nossos gatos persas e correr o menos risco possível de perde-los durante o voo.


- Reserve o lugar dos pets: após comprar as passagens, ligue dentro de 24h para a companhia aérea para reservar os lugares dos bichanos. Você não precisa necessariamente ligar em 24h, mas se o voo tiver alcançado o limite de animais na cabine, você ainda pode cancelar sua passagem sem problemas, desde que dentro de 24h da compra. Isso serve para qualquer tipo de passagem! Fica a dica. Você vai ter que pagar uma taxa para embarcar com os animais. Essa taxa varia com a companhia aérea e com o trajeto. Quanto mais escalas, mais cara será a taxa, então leve isso também em consideração quando comprar sua passagem. A taxa pode geralmente ser paga na hora da reserva, por telefone, ou no balcão da companhia quando fizer o check-in. Eu prefiro pagar adiantado para agilizar o processo no aeroporto.


- Organize uma boa caixa de transporte: veja no site da companhia aérea quais as dimensões máximas para a caixa de transporte caber embaixo das poltronas do avião. As regras dizem que o animal deve poder ficar de pé e se virar confortavelmente dentro da caixinha. Entretanto, as dimensões aceitas pelas companhias estão longe de serem confortáveis para os bichanos, a menos que você viaje com um porquinho da índia. A Lufthansa, por exemplo, não aceita caixas mais altas que 23 cm! Mas calma. Não entre em pânico. Essas medidas são somente para caixas duras e inflexíveis, de plástico ou metal. Se você escolher uma caixa de transporte de tecido, que pode ser moldada para caber embaixo do assento, ela pode ser um pouco maior e não há problema algum. Como fizemos uma viagem muito longa, escolhemos uma caixa de transporte que podia ser estendida nos lados para dar mais conforto aos nossos gatos.  
A caixinha na sua menor configuração, que deve ser usada durante o voo.
A caixa totalmente expandida.
A caixa fica bem compacta para ser guardada depois da viagem.


- Acostume os animais à nova caixa de transporte: deixe-os explorar a caixa e leve-os várias vezes para passear que carro nas caixas novas. Comece devagar (somente 15-20 min) e depois leve-os para passeios mais longos. Eu não tive muito tempo para acostumar os meus gatos, mas os levei pelo menos 3 vezes para passear de carro antes do voo nas caixas novas. Se você tiver mais tempo, é bom levar os animais para rodoviária ou estação de trem para que se acostumem com a correria do aeroporto. A caixa que usamos estende-se em ambos os lados, mas nunca chegamos a usar os dois lados abertos simultaneamente. Por isso, acho que compraria uma com expansão somente em um lado na próxima vez se fosse mais barato. Lembra-se que pode demorar várias semanas para a caixa chegar pelo correio, então compre com antecedência.
(Se quiser que eu faça uma review dessa caixa de transporte, deixe um comentário!) 


- Organize a documentação dos animais: Verifique as exigências do seu país de destino e da companhia aérea quanto a vacinas e outros documentos de viagem necessários para embarcar e desembarcar sem problemas. No nosso caso, só precisamos comprovar que os gatos tinham vacinas contra a raiva em dia. A vacina deve ter sido feita não menos de 21 ou 30 dias antes da viagem, mas não há mais de 11 ou 12 meses. Atenção: para viajar para a Europa, os animais precisam também ter um microchip (do tamanho de um grão de arroz) implantado sob a pele. O implante deve ser feito antes da vacina da raiva. É bom também ter um certificado da saúde de um veterinário (nem sempre obrigatório). Esse certificado normalmente é valido somente 7 ou 10 dias, então deve ser feito próximo à viagem. Como nossos gatos nasceram na Europa, eles também tinham passaportes europeus, onde todas as vacinas estão registradas. Para viagens para e do Brasil, verifique o site do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

 - Visite o veterinário: mesmo que você não precise de um atestado veterinário para seu bichinho, é sempre bom verificar se eles estão saudáveis antes de uma viagem de avião. Pergunte ao veterinário se ele/ela recomenda algo para ajudar o seu bichinho durante a viagem. Nós usamos um fitoterápico chamado Adaptil e o Anxitane (recomendado pelo veterinário) por alguns dias antes de voo e colocamos o spray Feliway (Ferormônio felino) nas caixas dos gatos logo antes da viagem. Misture as pílulas com uma pasta que seu gato gosta para não o estressar ainda mais ao dar o medicamento. Outra opção é dar a ração Royal Canin VeterinaryDiet Feline CALM. Tem para gatos e cachorros e deve ser dada por uma ou duas semanas antes do voo. Você vai achar essa ração à venda online no Brasil.

Atenção: nunca dê calmantes para os animais sem consultar um veterinário pois eles podem causar uma diminuição na frequência respiratória que pode levar à morte no avião.


- Analise o mapa do aeroporto de partida: procure uma sala silenciosa (“Quiet zone”) onde você possa levar os gatos para esperar pela partida do voo, caso chegue com bastante antecedência. Se você for viajar com um cachorro, procure os “Pet Relief Zone”, que são salas com grama artificial (geralmente) onde os cães podem fazer suas necessidades e esticar as pernas. Se não houver nada parecido no aeroporto, procure um local escuro e tranquilo para esperar com os gatos.
"Quiet zone" no aeroporto de Frankfurt. Foto do site do aeroporto.


-Se for ficar em um hotel, verifique se aceitam pets e quanto custa. Alguns hotéis cobram por dia por pet e outros cobram uma taxa fixa por quarto. Fique de olho. Muitos hotéis também limitam a quantidade de pets a dois. Nós mandamos um e-mail para o hotel antes e perguntamos se poderíamos levar 3 gatos.


O que levar na mala para os gatos?


Como compramos 3 passagens de avião, podíamos despachar 3 malas de 23 kg também. Deixamos uma dessas malas somente para as coisas dos gatos. O que levamos:

  • Uma caixa de areia que coubesse no fundo da mala
  • 5 kg de areia à qual os gatos estão acostumados (levamos porque não sabíamos se acharíamos a mesma marca no destino e para já ter areia quando chegássemos no hotel)
  •  0.5 kg de areia que já estava sendo usada pelos gatos, mas claro que sem xixi e fezes. O objetivo é fazer com que os gatos se sintam mais confortáveis no local de destino por causa do cheiro da areia antiga.
  • 3 kg de ração (pelos menos motivos pelos quais trouxemos tanta areia)
  • 20 latinhas de comida húmida à desde que sejam esterilizadas na produção e lacradas não há problema, mas verifique com o Ministério da Agricultura do país de destino.
  • Potinhos de água e ração.
  • Brinquedos favoritos
  • Escovas e pentes
  • Um removedor de pelos para as roupas.


O que levar para os gatos dentro do avião? 

Em uma viagem tao longa, tudo pode acontecer.

  • Caso os gatos fizessem xixi ou coco dentro da caixa de transporte, colocamos uma fralda ou tapete higiénico dentro das caixas (compramos o menor tamanho possível). Levamos também 3 tapetes extras casa houvesse algum acidente.
  • Cortamos um pano velho em vários pedaços casa tivéssemos que lavar algum gato no avião por causa de vomito ou diarreia. A ideia seria levar o gato ao banheiro, coloca-lo sobre o trocador de fralda para bebes, humedecer e usar os paninhos, e depois descartá-los.
  • Todos os documentos dos gatos.
  • Um potinho de silicone para dar água aos gatos (embora eles se recusassem a beber no avião, levei caso tivéssemos atrasos no voo ou outra situação inesperada).
  • Alguns snacks (eles também não quiseram comer no avião, mas trouxe caso tivéssemos atrasos).
  • Os medicamentos para ansiedade.

A nossa jornada da Alemanha aos Estados Unidos



Nossos gatos:

  • Lee, gata persa, 4 anos
  • Lola, gata persa, 3 anos
  • Cowboy, gato persa, 1 ano


NO AEROPORTO: 

Como o nosso voo era durante o dia, meu marido e eu saímos cedo pela manha e chegamos com 3h de antecedência no aeroporto. Não conseguimos fazer nosso check-in online por causa dos gatos e tivemos que fazer tudo no balcão da companhia no aeroporto.

Lembre-se que os gatos devem ser as últimas coisas a entrar no carro. Deixamos tudo pronto, demos as pilulas calmantes para os gatos, e partimos para 1h de carro até o aeroporto. A ideia era chegar cedo, evitar filas longas e ficar tranquilos com os gatos na zona silenciosa do aeroporto até o momento do voo. Mas...
Os gatos no carro, prontos para partir! (ou não)


Embora tenhamos chegado com 3h de antecedência no aeroporto, quase perdemos o voo. O aeroporto estava cheio e a fila do check-in já estava gigante. A equipe de solo da United foi super desorganizada, nos mandou para as filas erradas (você provavelmente terá que ir para um balcão de necessidades especiais), esqueceu de verificar nossos passaportes antes de fazer o check-in no balcão e nos mandou para outra fila de novo. No balcão de atendimento certo, os funcionários não sabiam preencher os documentos dos gatos ou fazer o check-in do assento extra que compramos para o terceiro gato. E nós indo de um lado para o outro com 3 malas pesadas, 3 malas de mão, mais 3 gatos! Depois de mais de 1h30 de confusão, pesaram todos os gatos (o peso do gato com a caixa não pode ultrapassar 8 kg), conferiram a documentação e fizeram uma etiqueta amarela que deveria ficar na caixa de cada gato.
 
Etiqueta com nossas informaçoes no lado oposto.


Saímos correndo, desesperados, com gato voando para tudo quanto é lado, cruzando o aeroporto para chegar no controle de imigração. Graças a Deus não tinha fila e passamos sem problemas pela imigração.


Já a verificação de segurança (raio-X) foi mais demorada. Havia uma fila média, mas havia somente uma máquina de raio-x operando. Porém, eu vi que havia uma fila separada para famílias, idosos e necessidades especiais. Perguntei para o segurança se podíamos entrar nessa fila por causa dos gatos e ele nos disse que sim. Os outros passageiros ficaram furiosos e vários passaram também para a nossa fila (alguns nos empurraram e passaram na nossa frente).


No final, os que saíram da fila regular para ficar atrás do nosso comboio se deram mal. Nossa verificação de segurança demorou horrores. Primeiro porque tínhamos 3 malas de mão com 4 computadores (um profissional e um pessoal cada para mim e meu marido) que tinham que ser retirados das malas e passados separadamente pelo raio-x. Segundo porque meu marido trazia equipamento de fotografia profissional, que também teve que passar separadamente pelo raio-x. E por último, por causa dos gatos.


Eu logo já avisei ao pessoal da segurança que tínhamos animais vivos. Eles então me instruíram a passar pelo raio-x sozinha, voltar e ir com os gatos à uma sala separada. Os seguranças foram muito gentis e compreensivos. Fomos à uma sala fechada, silenciosa, onde retirei cada gato da caixa e eles verificaram manualmente se não havia nada proibido dentro das caixas. O processo foi mais tranquilo do que eu esperava: achei que ia ter que tirar os gatos das caixinhas no meio da muvuca mesmo. Enquanto eu estava com os gatos nessa sala, o meu marido estava passando com o resto das nossas malas pelo raio-x.


Saímos novamente correndo para chegar até o portão de embarque. O embarque já havia começado! Porém, nos deparamos com mais uma verificação de passaporte, dessa vez feita pela própria companhia aérea. Quando finalmente passamos por mais isso e estávamos quase no portão de embarque, os seguranças nos chamaram para uma verificação de segurança aleatória. Passamos junto com uma outra senhora de mais idade para um canto separado próximo a um portão de embarque não utilizado, onde havia uma estrutura para verificar a presença de vestígios de drogas nas nossas roupas, sapatos e mãos. Claro que passamos nos testes, mas eu estava furiosa com a demora.


Saímos de novo correndo com os gatos e chegamos ao portão de embarque, onde havia mais uma verificação de passaporte antes de podermos apresentar nossos cartões de embarque e passaportes para finalmente embarcar. Acho que fomos quase os últimos a entrar no avião, mas chegamos a tempo! Uffa.


DENTRO DO AVIÃO:


Entrando no avião, achamos nossas poltronas, logo atrás da asa do avião.


Fica a dica: os assentos próximos ou em frente às asas do avião são os locais onde haverá menos turbulência, o que é melhor para os bichinhos.


Colocamos os 3 gatos embaixo dos assentos à nossa frente. As caixas de transporte eram um pouco maiores do que o permitido pela companhia e de fato havia uma barra no meio das poltronas que nos impedia de colocar as caixas até o fundo. Aí você tem duas opções: deixar a caixa mais para fora (e consequentemente ficar com menos espaço para as pernas) ou abaixar um pouco a caixa com as mãos e forçar sua entrada embaixo da poltrona. Fizemos a segunda opção, principalmente para a decolagem.
As caixas couberam partialmente embaixo das poltronas.


Os gatos detestaram a decolagem. Cowboy teve um ataque de pânico. Começou a se debater dentro da caixa como se estivesse morrendo. As outras duas gatas também miaram bastante, morderam a caixa e tentaram sair a qualquer custo.


Para quem está preocupado com os miados dos gatos no voo, pode ter certeza de que ninguém vai ouvir. O avião é realmente ensurdecedor.
Não tem muito espaço para as pernas...

Depois da decolagem, quando os sinais para atar os cintos foi desligado, começamos a fazer carinho nos gatos para acalmá-los. Eles demoraram muito para se acalmarem. Ficavam respirando com a língua para fora (sinal de estresse), miando e tentando escapar. Somente depois de várias horas eles se acalmaram, mas continuavam sem dormir.

Expandimos a caixa da Lee, que tentou escapar no processo, mas não conseguiu. Cowboy entrou novamente em pânico com a expansão da caixa e, consequentemente, do seu campo de visão. Então, logo fechei sua caixa novamente. Tiramos a caixa da Lola de debaixo da poltrona, mas não conseguimos expandi-la por falta de espaço.
Lee em sua caixinha.

A Lee continuava ofegante e miando. Depois de 4h de voo, colocamos sua caixinha no assento livre e eu fiquei horas fazendo carinho nela. Enquanto eu a acariciava, ela dormia ou deitava relaxada. Com Cowboy já mais calmo nesse momento, expandimos sua caixa também e ele dormiu. Lola também ficou mais calma no meio da viagem, mas miava regularmente.

Lee no assento do avião.

Tivemos que colocar todas as caixas fechadas nas suas posições originais para a aterrissagem. Os gatos, que tinham ficado mais tranquilos, começaram a miar e tentar escapar desesperadamente de novo. Cowboy novamente teve um ataque de pânico e ficou se debatendo na caixinha. Morri de pena. Eu tentava acalmá-lo fazendo carinho sempre que possível.



NO AEROPORTO DE DESTINO

Saímos do avião quase por último, com uma aeromoça nos ajudando a carregar todas as malas. Fomos então o mais rápido possível para a fila de imigração, que estava muito longa. Não havia nenhuma fila preferencial, somente para diplomatas e membros de tripulação. Ficamos uma hora ou mais na fila. Cowboy dormiu, exausto.


Dica: Achei que ficou melhor quando cobrimos as caixas dos gatos com um cobertor, assim eles ficavam mais tranquilos. Não é o ideal, já que diminui o fluxo de ar, mas os gatos agradecem.


Passando pela imigração, pegamos as malas despachadas e passamos pela alfândega. Como estávamos trazendo comida enlatada para os gatos que contém carne, tivemos que declarar que trazíamos essa carne. Passaram as malas pelo raio-X. O oficial de fronteira abriu nossas malas e olhou se as latinhas estavam vedadas como originalmente compradas e quais eram os ingredientes. Carne enlatada pode entrar nos EUA, exceto se for de origem caprina ou ovina.


Como trazíamos uma quantidade grande, expliquei espontaneamente que era para consumos dos meus gatos em um período de adaptação e não para venda. Não nos fizeram nenhuma pergunta adicional e nos liberaram sem problemas.


Saímos aliviados da alfândega e prontos para pegar o transporte terrestre para o hotel. Na minha felicidade, fiz uma curva mais rápida com o carrinho de bagagens e a caixa de um dos gatos caiu no chão. 😧 O Cowboy levou um susto, mas não se machucou. Não façam isso...


Atravessamos o estacionamento com toda a bagagem e os gatos, até chegarmos ao carro que ia nos levar ao hotel. Era um SUV bem grande e coubemos todos sem problemas. Cowboy e Lee miaram pelo caminho todo (1h), mas Lola não aguentou e dormiu.


NO HOTEL:


Chegamos ao hotel e colocamos todas as bagagens e gatos no saguão. Por incompetência do hotel, que havia perdido nossas informações de reserva, tivemos que esperar muito tempo para entrar no quarto (e os gatos miando). Depois de nos darem o quarto errado e muita discussão, finalmente estávamos acomodados.   


Deixamos os gatos saírem das caixinhas. Cowboy ficou curioso, cheirando tudo. Lee correu para ficar embaixo da cama. Lola explorou um pouco e foi para baixo da cama também. Preparamos a caixa de areia, que eles não usaram imediatamente, mas em poucas horas.
Lee sobre a cama brincando com os outros dois gatos (embaixo do cobertor).


Demos um sachê de comida bem molhadinha (e colocamos mais água) para incentivar os gatos a se reidratarem. Geralmente compramos comida em patê, mas havíamos trazido alguns sachês com pedaços justamente porque sabemos que eles só gostam de comer o caldinho. A Lola estava com uma sujeira branca no nariz depois do voo. Acho que era um pouco de secreção nasal que secou no ar com baixa umidade na cabine. Ela não me deixou limpar, mas havia desaparecido no dia seguinte. Também oferecemos água e ração.


Eu achei que os gatos estariam cansados à noite e que dormiriam bem, mas eles estavam bem ativos, explorando o quarto, miando e caminhando por tudo. Durante o dia, dormiam embaixo da cama ou no sofá. Nós estávamos exaustos, já que não dormimos no avião. As noites ficaram mais tranquilas depois de uma semana, mais ou menos.


Curiosidade: mesmo que os gatos tivessem saído da Europa no verão e chegado no verão, eles ainda começaram a trocar de pelos para a pelagem de inverno (em julho!), provavelmente por causa do fuso horário. A pelagem de inverno diminuiu um pouco depois de um ou dois meses e voltou novamente em dezembro.


CONCLUSÃO:


Ficamos felizes de ter conseguido trazer os 3 gatos sem maiores problemas. Foi uma viagem difícil e muito mais cansativa que o normal, mas a saúde e bem-estar deles é o mais importante. Planejamento e informação foram essenciais para o bom andamento da viagem. Se tivermos que fazer tudo de novo, faremos igual, mas chegaremos com mais antecedência no aeroporto. 😅

Esqueci de alguma coisa? Deixe a informação nos comentários! 


Espero ter ajudado! Beijos!