terça-feira, 29 de abril de 2014

20 km de Lausanne 2014

Uma vez por ano Lausanne para completamente para assistir ao 2º maior evento esportivo da Suíça: a tradicional corrida dos 20 km de Lausanne. Na sua 33ª edição, o evento bateu recordes e contou com mais de 22.000 inscritos dos 4 aos 89 anos de idade. Crianças menores de 14 anos e pessoas que quiseram correr somente 2 ou 4 km participaram gratuitamente graças a um banco suíço (Vandoise), que patrocinou as camisetas e medalhas desse pessoal. Fora das pistas de corrida, outro recorde foi batido: cerca de 10.000 pessoas vieram assistir, apoiar e animar os corredores, formando barreiras de incentivo por praticamente todo o percurso da corrida.







O tempo bom ajudou. No ano passado, a corrida aconteceu no meio de um temporal, temperaturas abaixo de 6ºC e com vento à 30 km/h na beira do lago. 5 mil pessoas desistiram de correr e o público resumiu-se à morados assistindo à corrida das sacadas de suas casas confortáveis. Essa tinha sido a minha primeira corrida, uma experiência terrível obviamente. Eu quero congelei. Ensopada de suor e chuva correndo contra o evento ou lomba acima não foi exatamente agradável.

Esse ano, por sua vez, um sol tímido aparecia entre as nuvens, deixando a temperatura em uns agradáveis 18ºC, com pouco vento. A presença do público também fez uma grande diferença. Moradores, visitantes e crianças gritavam o nome dos corredores (escrito acima dos nossos números de inscrição, fixado na camiseta do evento), alguns inclusive participaram ativamente da corrida, principalmente crianças que resolviam fazer um "sprint" com quem estava desistindo de correr. Outros morados usavam suas mangueiras para fazer uma chuvinha nas suas calçadas, então os corredores podiam passar por ali para se refrescarem um pouco, já que o calor derivado do esforço físico começou a ficar demais depois dos 5km de corrida.


As crianças são super-fofas!





Os organizadores do evento também colocaram diversas máquinas de fazer neve em pontos estratégicos do percurso para fazer uma fina chuva cair sobre os participantes e refrescá-los. Água e isotônico também foram distribuídos na marca de 6 km. Na linha de chegada, diversas fontes de água serviam para refrescar e hidratar quem chegava. Em seguida, estandes com isotônico, frutas, gel relaxante para os músculos, massagens e banheiros com chuveiros aquecidos estavam disponíveis. Nada como uma organização suíça.



Eu corri "somente" 10 km, como sempre. Eu não sou uma corredora nata, preciso treinar muito para fazer um tempo ridículo nessas competições. Na real, eu venho observado há algum tempo que pessoas que são boas em natação geralmente sofrem mais com a corrida e vice-versa. Até faz sentido. Eu tenho muito mais força nos meus braços que nas minhas pernas, por isso me dou bem em esportes como natação e escalada. Acredito que o inverso seja verdade também. Depois que eu descobri isso, meu respeito por pessoas que fazem triatlos aumentou significativamente (p<0.01), como se fosse possível!



Voltando ao meu tempo ridículo, ano passado eu levei 1h23 minutos para completar o percurso e passei tão mal no final que vomitei várias vezes. Esse ano, eu terminei me sentindo bem e em 1h13, meu melhor tempo até agora. O problema é que eu não consigo correr em subidas, o que faz parte de quase 3 km do percurso. Mas tudo bem, eu conseguia recuperar meu tempo nas descidas. Minha classificação na minha categoria (mulheres de 20-30 anos) foi de 1104º lugar (de 1184). Isso quer dizer que eu fui mais rápido que 80 pessoas! \o/ Pode não parecer muito, mas eu estou acostumada a ficar entre os 10 últimos na categoria. Estou orgulhosa de mim mesma! Não só fui melhor que 80 pessoas na corrida, mas melhor que outras milhões de pessoas que estavam em casa assistindo TV.

Finalmente chegando no final...
Eu acho que a parte mais desesperadora desses eventos é quando você começa a se sentir mal por causa do esforço e passa por pessoas desmaiadas no chão durante a corrida. Os organizadores do evento colocam paramédicos a cada 500 metros nas partes mais difíceis do percurso (subidas, por exemplo), então quando alguém passa mal eles chegam muito rápido pra te socorrer. Por um lado isso te dá alguma segurança, por outro, ver as pessoas sendo atendidas pelos paramédicos (e dessa vez eu vi muitas pessoas da minha idade caídas) dá um certo medinho e faz com que a gente fique ainda mais consciente do coração batendo a 200-210 bpm.



Mas, como diria o meu pai, "entre mortos e feridos, todos sobreviveram". Acho que o único pessoal que ficou meio de cara foi quem teve que circular pela cidade de carro. Várias ruas estavam fechadas por causa do evento e os congestionamentos estavam uma loucura, somente os ônibus estavam circulando em velocidade razoável. Porém, eu apoio o fato de que o governo sempre priorize os eventos esportivos e o transporte público em detrimento dos carros, principalmente se você mora em Lausanne, a Capital Olímpica. u_u

Esse ano, o comitê de organização recebeu uma surpresa do departamento de trânsito. Uma multa de 4 milhões de francos (cerca de 10 milhões de reais) pelo desgaste que os tênis dos corredores estão fazendo no asfalto das ruas municipais. Segundo o departamento, nos últimos 33 anos as ruas usadas como percurso das corridas perderam 7 cm de asfalto devido ao atrito das borrachas dos tênis. Vai saber né. Talvez ano que vem teremos que correr com feltros embaixo dos tênis. Vai ser divertido. :)


sábado, 12 de abril de 2014

Eu vou me mudar (de novo)


Quem acompanhou minha saga em Lausanne sabe que eu fiz 3 mudanças em 3 semestres. E é claro que no 4º semestre não ia ser diferente. Atualmente eu moro em uma casa de estudante (Planete Bleue) onde só podem morar estudantes (obviamente). Eu poderia ficar aqui por até 2 anos, ou seja, setembro de 2015. Entretanto, estudante de doutorado não é considerado "estudante" aqui na Suíça, você é um empregado da Universidade, com contrato, salário, férias, direitos trabalhistas, aposentadoria e tudo isso. É ótimo, mas também tem seu preço, especialmente pra mim.

Recentemente fiquei sabendo que teria que deixar meu quarto na residência nos próximos meses. Entrei numa espécie de desespero porque minhas experiências passadas revelaram que é extremamente desgastante, exaustivo e difícil achar um quarto pra alugar aqui, especialmente porque eu não sou européia e não falo (muito) francês. Pra vocês terem uma ideia, antes de vir pra cá eu estava procurando apartamento por 3 meses e estava a 2 semanas de ter que sair do meu estúdio sem ter lugar pra morar. Eu estava cogitando ir morar com o técnico do laboratório, Thomas, em uma cidade que fica há 1h de Lausanne. Sim, esse era o tamanho do desespero. Graças a deus um aluno desistiu do seu quarto aqui no Planete Bleue.

Então vocês podem imaginar que eu não recebi a notícia com muito entusiasmo. Eu estou saindo que de uma fase extremamente ruim da minha vida, entrando no doutorado, tendo que resolver milhões de problemas administrativos, etc, e não tenho energia física e emocional pra procurar um lugar para viver agora. Aconselhada pela minha terapeuta, eu fui buscar ajuda no serviço de assistência social da Universidade. Eu expliquei a situação e a assistente social prometeu me ajudar. 

Dito e feito. Em 2 semanas ela tinha arranjado um estúdio pra mim em outra residência dentro da Universidade. Sim, eu estarei a 500 metros do laboratório! Eu sou muito grata à ajuda que recebi. Foi um peso enorme que tiraram das minhas costas. A parte meio chata é que o estúdio, assim como a Universidade, é longe de tudo. Leva 30 minutos pra chegar ao certo ou à estação de trem de Lausanne. O bom é que fica perto do lago e da Universidade, lugares onde eu passo 90% do meu tempo. :)
A EPFL fica do outro lado da rua.

Os fundos.

O quarto.

Eu tenho que me mudar em Maio, 4 meses antes do final do meu contrato atual, mas é pegar ou largar. O problema é que o diretor do Planete Bleue quer que eu ache uma pessoa pra ficar no meu lugar até o final do contrato, se não eu tenho que pagar os aluguéis normalmente. Não sei exatamente quão legal é essa jogada, já que eu dei mais de 30 dias de aviso prévio, mas enfim, vamos lá. Anunciei meu quarto na internet e recebi poucas respostas, já que o final do semestre não é o melhor momento pra se procurar locatários. Mas eu só precisa de uma resposta aceitável. Depois de alguns dias, resolvi convidar uma menina pra conhecer o apartamento. Por sorte ela gostou muito e quer ficar com ele. \o/ Problema resolvido em menos de 1 semana. ^-^ Ah, seria ótima que essa onde de boa sorte continuasse, tipo, pra sempre.

A menina agora está com uns problemas com o quarto atual dela. Ela precisa dar 2 semanas de aviso prévio, mas ela não quer fazê-lo sem antes assinar o contrato do meu quarto. O que é compreensível, mas que raramente acontece. Eu mesma vou assinar meu contrato na semana da mudança. É assim que as coisas funcionam aqui, é na palavra mesmo (ah, se fosse no Brasil...).

Enfim, vamos manter os dedos cruzados pra que tudo dê certo!

Enquanto isso, eu estou migrando caixas de papelão do laboratório pro meu quarto e começo a empacotar as coisas. Faltam 19 dias pra minha mudança, mas eu não vejo a hora. Eu curto muito morar aqui, mas tem coisas que eu já não consigo mais aguentar, como a sujeira desgraçada da cozinha, bagunça, barulho, falta de privacidade, comida sendo roubada (sim... só me dá dor de cabeça) e por aí vai. Então, contagem regressiva pra mudança!  \o/

Jazz Festival

Semana passada eu fui no festival de Jazz de Cully, uma cidade há 15 minutos de Lausanne (via trem). A cidade é muito lindinha, fica à borda do lago Léman e é muito simpática. O dia estava lindo:



Eu não sou uma pessoa muito fã de música Jazz, mas eu fui porque eu iria com um grupo de estudantes de intercâmbio da EPFL. Eu preciso conhecer gente nova, já que a maior parte dos meus amigos de mestrado voltou pra suas casas em diferentes países. 

O show em si foi bem legal. A música era boa, deu pra relaxar. O show aconteceu dentro de uma tenda forrada com cortinas pretas, já que o festival começa às 18h30 e o sol ainda vai alto até umas 20h30. 

As únicas coisas que me preocupavam um pouco eram o barulho (eu não curto música muito alta, e os shows geralmente não poupam os decibéis) e o fato de termos que ficar de pé por várias horas. Mas logo todas as minhas preocupações se dissiparam. 

Na entrada do show, todos ganharam "earplugs", ou tampões de ouvido:


Foi a melhor coisa! O som era tão alto que usando os tampões ele ficavam agradável. Várias pessoas usavam os earplugs, exceto os doidos pulando na frente do palco.

No fundo da pista onde a gente assistia ao show, havia uma arquibancada com degraus baixinhos e forrada com carpete. Tinha bastante gente sentada assistindo ao show mais de longe e alguns, como eu, que resolveram deitar e relaxar com o som da música. Foi realmente muito legal. Eu quase dormi. XD


Em geral, foi super legal e eu conheci um monte de gente bacana!

terça-feira, 1 de abril de 2014

Brasil: um olhar de quem vem de fora

Você alguma vez já parou pra olhar realmente o que acontece à sua volta no Brasil? Alguma vez já parou pra repensar a realidade do país? Por que o Brasil, com toda sua riqueza e diversidade, não consegue evoluir e se igualar a um país de primeiro mundo?



Se eu me fizesse essas perguntas há alguns anos, eu certamente responderia que é culpa da corrupção, dos altos impostos, da burocracia, da desigualdade social, da falta de educação, infraestrutura, saúde, empregos etc. Hoje, depois de passar um ano e meio fora do Brasil, vejo que a realidade do país é outra. As situações absurdas, que de tão comuns já haviam me anestesiado, agora já me causam repulsa novamente. Aquele modo automático de ignorar o que eu não queria ver se reverteu. O efeito da anestesia passou.
Ficam registradas nesse post minhas impressões ao voltar ao Brasil e vê-lo pela primeira vez de novo.

Descaso, desorganização e caos.
A primeira coisa que eu notei ao sair do aeroporto foi o caos do trânsito de veículos e pessoas. As ruas de várias cidades estão abandonadas, não há pintura do meio-fio, há somente resquícios das faixas de pedestre, é raro encontrar uma sinaleira pra pedestres (exceto nas grandes avenidas da capital), faltam placas, sinalização de lombadas e iluminação. Até a novíssima rodovia do Parque tinha longos trechos sem iluminação 7 dias após sua inauguração. Não bastassem as péssimas condições de circulação, os motoristas e transeuntes brasileiros não ajudam em nada. Uma das características mais marcantes e irritantes do nosso trânsito são os pedestres cruzando ruas fora da faixa segurança, mesmo que esta esteja a 5 metros de distância. Como se não bastasse, eles ainda atravessam em esquinas, cruzamentos, rotatórias, pontos de difícil visualização para o motorista e até quando o semáforo está verde para os caros. Pior ainda é que eles fazem isso não só sozinhos, mas também acompanhados por crianças (pra ensinar errado pras próximas gerações), em grupos (que são mais lentos), carregando coisas (imagina meu susto quando 4 pessoas carregando uma geladeira se jogou na frente do meu carro semana passada), etc. Depois as pessoas são atropeladas e a culpa é do motorista...

O caos se intensifica ainda mais com motocicletas e ciclistas. O problema das motocicletas já é assunto conhecido pra qualquer um que dirija no Brasil. Elas cortam a frente, circulam em alta velocidade, não respeitam as faixas de sinalização, etc. Agora, os ciclistas estão demais. Eu concordo que faltam ciclovias nas cidades e que, na falta delas, os ciclistas devem ser respeitados tanto quanto carros e motocicletas. Agora, pra ser respeitado, tem que respeitar. Todo ciclista quer que os carros os ultrapassem com distância segura e que respeitem sua passagem nas vias preferenciais. Mas qual ciclista faz sinal com a mão quando vai dobrar em uma esquina? Qual finalização quando vai parar? Qual nunca cruzou um sinal vermelho porque "não vinha ninguém" do outro lado? Qual nunca andou nas calçadas de pedestres? Sem falar nos que andam na contramão. O código de trânsito é claro, e aquele que o desconhece deve ser multado não só pela infração cometida, mas também por atestar o desconhecimento da própria lei.

Sobre os carros não tenho muito a acrescentar. Continuam dirigindo agressiva ao invés de defensivamente, não usam as setas para indicar se, onde e quando vão dobrar ou parar, estacionam e param em locais proibidos ou em fila dupla atrapalhando os motoristas atrás dele, etc. Em suma, o trânsito brasileiro tem muito a ver com a dinâmica da população em geral: falta respeito, educação e consideração pelo próximo.

A desorganização e o caos também se instalam em locais com grande concentração de pessoas. Parece que existe um botão de liga/desliga para a civilidade. As pessoas transformam-se em animais pra entrar em um trem ou ônibus lotado, pra conseguir o último item em uma promoção, pra pegar um lugar bom na fila, no estádio, no teatro, no restaurante (vide restaurante universitário ¬¬). Às vezes me sinto na dança das cadeiras, aquela brincadeira infantil. O cúmulo foi o voo que peguei de Lisboa para o Brasil em dezembro. A maioria dos passageiros eram brasileiros, então as pessoas corriam, se empurravam e tentavam furar as filas do raio-X, do controle de imigração, do check-in, e do embarque. O cúmulo em questão foi o pessoal ter ficado 1h30 em pé na fila de embarque do avião pra ser o primeiro a entrar. Alguém me explica isso?

Egoísmo e desrespeito.
Acho que logo depois dos exemplos acima, vale falar sobre como somos individualistas, egoístas e desrespeitosos em relação ao próximo. Brasileiro tenta tirar vantagem em tudo. Tem que estar sempre à frente, tem que ter o melhor e, mais importante, tem que se mostrar (afinal, não é por isso que o facebook fez tanto sucesso no país?).

Falta de educação.
Ainda em 2014 se vê pessoas jogando lixo na rua. Eu ainda vi uma mãe mandando o filho jogar o papel de bala pela janela do carro pra não melecar o lixo do veículo. E não era um carro ruim, era uma caminhonete SUV com teto solar e tudo. O absurdo é tanto que criaram uma lei  explicitamente proibindo espalhar detritos, com direito à multa (embora eu tenha certeza de que isso já se encontra nas leis de respeito ao patrimônio público). Essa iniciativa já nasceu morta, assim como a regra de esticar a mão pra atravessar a rua. Num país onde faltam policiais e agentes de trânsito, quem vai ficar de plantão abordando quem jogar lixo no chão e mandando multa por e-mail? O problema está na falta de educação das pessoas. Não porquê elas não sabem que é errado, é porque são imbecis mesmo. Cabe ao governo e aos meios de comunicação tratar as pessoas como crianças de pré-escola e conscientizá-las constantemente. No mesmo balaio cabe o uso das "palavras mágicas". Me surpreendeu quão pouco as pessoas pedem por favor, licença, agradecem ou simplesmente sorriem umas às outras. No supermercado, vi uma mulher bater com o carrinho numa prateleira com shampoos, que caíram todos pelo chão. Em vez de pelo menos colocar os produtos de volta na prateleira, em qualquer lugar, a mulher olhou a bagunça, virou-se e seguiu adiante. Fiquei pasma. Outro exemplo são os motoristas que estacionam em vagas para deficientes físicos. Está faltando a mínima noção de convívio em sociedade.  

Abuso de poder.
Depois de ver a cena no supermercado, fiquei pensando nos motivos que poderiam ter levado a mulher a agir com tanta estupidez. Será que ela pensou que era trabalho dos funcionários do mercado limpar sua bagunça? Aí fica aquela máxima: você, que joga lixo no chão pra não tirar o emprego dos garis, aproveita e morre pra não tirar o emprego dos coveiros. É uma noção irreal de superioridade e, quando associada a uma posição social ou profissional, ao abuso de poder. Minha mãe, por exemplo, foi multada no estacionamento por ter deixado o ticket de estacionamento expirar 1 minuto. A agente de trânsito agiu com prepotência e arrogância, ignorou-nos totalmente e emitiu a multa no momento em que colocávamos a chave na porta do carro. E quem nunca se irritou com um funcionário tomando cafezinho, falando no celular ou passeando no facebook em horário de trabalho enquanto uma fila gigante se forma no atendimento? Só faltava levantar a cabeça e rir dos palhaços esperando ali, muitos deles até usando seu curto horário de almoço pra pagar uma conta. Isso acontece com muita frequência e, ironicamente, as pessoas com os poderes mais insignificantes são os que mais abusam dele. Talvez por serem mal-pagos, infelizes e quererem descontar nas outras pessoas.
Agora, outra situação que muitos de vocês (inclusive eu) nunca tinham percebido como abuso é praticado pelas pessoas supostamente mais frágeis e vulneráveis. O melhor exemplo são os "idosos" (isso mesmo!). Coloquei aqui idosos entre aspas porque me refiro ao que a legislação considera como idoso: pessoas com mais de 60/65 anos de idade. Pra mim, idoso mesmo é aquela pessoa com dificuldades físicas e/ou psíquicas decorrentes do envelhecimento, como dificuldade pra caminhar ou ficar em pé.  

Pessoas de rua.
Me deu uma dor no coração de ver pessoas idosas, jovens, de meia-idade, enfim, qualquer pessoa abandonada na rua, dormindo em caixas de papelão, com os pés pretos de sujeira. E são muitas pessoas assim. Acho que quando a gente passa muito tempo vivendo no Brasil acaba se acostumando com essas situações e fica "cego" em relação a elas. Gente, pensem bem: é um ABSURDO alguém morar na rua! Onde está a assistência social? Os programas de inclusão? Os programas de reabilitação e de combate às drogas? Por que não temos albergues públicos em número suficiente? O pior é que nós, a sociedade, somos tão responsáveis quanto o governo pelo que está acontecendo. Nós não cobramos. Nós não nos envolvemos. Nós não defendemos os direitos dos mais fracos porque não queremos nos incomodar e sair da nossa zona de conforto. Nós não vemos as pessoas que precisam de nossa ajuda. Nós escolhemos não vê-las. 
Agora, coloca uma foto de um cachorro abandonado nas redes sociais pra ver se não vai ter 100,000 compartilhamos... Somos todos hipócritas.

Jeitinho brasileiro.
Eu acho que muita gente tem orgulho do "jeitinho brasileiro". Eu também tinha há até pouco tempo, quando me dei conta do que isso realmente significa. O jeito brasileiro é o jeito "malandro", o "atalho" pra uma solução mais rápida e que exija menos esforço. Concordo que muitas vezes somos forçados a usar o jeitinho brasileiro pra escapar da maldita burocracia (que deveria ser um capítulo à parte), mas isso não o torna menos inaceitável. O jeito brasileiro incluiu fazer as coisas de qualquer jeito, fazê-las só pra dizer que foram feitas, fugir dos caminhos legais, "molhar" a mão de alguém, furar a fila, deixar que a próxima pessoa lide com o problema, improvisar uma "gambiarra" porque requer menos esforço do que fazer do jeito certo. É um reflexo do nosso egoísmo, da nossa falta de consideração com o próximo. 
Não, eu não tenho orgulho do "jeitinho brasileiro". Eu tenho vergonha.

No final, eu fiz esse post por um só motivo: eu amo meu país (apesar de tudo). Eu realmente AMO ser brasileira e eu acredito na capacidade de cada brasileiro (eu, você, e todos!) de ser uma pessoa melhor, uma pessoa que faz decisões pensando no bem comum, que não se aliena face aos problemas da nossa sociedade.
Espero que esse post tenha feito você re-pensar a realidade à sua volta e parar de aceitar aquilo que, no fundo, todos nós sabemos que está errado. Você não precisa mudar o país de um dia. Comece mudando o seu comportamento em relação às outras pessoas e pare de fazer coisas absurdas só porque todo mundo o faz. Você pode fazer a diferença mudando a si mesmo. 

Lembre-se: tudo começa com um ponto (e se você não viu esse vídeo ainda, por favor, assista!).