domingo, 17 de fevereiro de 2013

Provas, provas, provas!

Janeiro passou muito rápido. E muito devagar ao mesmo tempo. Depois do ano-novo em Zurique estava na hora de eu cair na realidade e começar a estudar para as provas. Foram 9 provas em 2 dias, praticamente contra os direitos humanos. Meus dias se resumiam acordar, tomar café da manhã assistindo a um seriado aleatório, procrastinar um pouco na internet e depois me enterrar nos infinitos slides, artigos, livros e anotações. Eu estava um pouco receosa porque eu nunca estudava realmente pra uma prova. Eu lia os slides e minhas anotações de aula. Jamais abria um livro ou lia um artigo pras provas. Mas dessa vez foi diferente. Eu tinha poucas anotações da aula (talvez porque eu não estivesse prestando atenção, porque eu não estivesse entendendo nada ou porque eu estava dormindo/viajando), então eu precisei estudar de verdade. Comecei lendo os slides e me apavorei. Só tinha figura nas coisas e quando tinha texto, estava praticamente só em francês. Perdi muito tempo de estudo entendendo a matéria, procurando palavras-chave no google (admita, você já fez isso) e lendo artigos da wikipédia. No começo eu só dei uma lida por cima de tudo, sem me preocupar muito em decorar. Grande erro. Tive que reler tudo de novo, fazendo meus próprios resumos em papel e cartões com conteúdo pra grudar pela casa, inclusive no espelho do banheiro. 

Além dos slides dos professores, dos livros, das anotações e dos meus resumos, ainda tinha os resumos das minhas colegas pra estudar (aqueles que a gente propôs pra cada pessoa fazer um resumão de uma matéria - o nosso "Esquema" confidencial) e o áudio das aulas que a Nicole gravou. Não é a toa que eu entrei em pânico nos dias que antecederam as primeiras 5 provas (17 de janeiro). Não tinha como eu revisar tudo isso e decorar todas as rotas metabólicas e de sinalização celular. Acho que decorar a tabela periódica seria mais fácil. Então sim, eu surtei. Muito.

Celine após 14h de estudo.


No dia das primeiras provas, nós tinhas 5 provas separadas pra fazer na ordem que quiséssemos, mas só tínhamos 4 horas. Então em pânico ainda mais porque levei 1h20 pra fazer a primeira delas (Imunologia). Mais pânico ainda porque eu não sabia a resposta de metade das questões. Na real, eu sabia o básico: tipo a célula liga no vaso e migra pro tecido (com alguns detalhes), mas a prova pedia umas coisas muito impossíveis, tipo o detalhe do detalhe do detalhe. Fala sério! Eu bloquei esse tipo de coisa na minha mente e jogo o conhecimento ultra-detalhado pra minha seção "não vai cair na prova, muito impossível". Bom, parece que meu sistema de filtros falhou dessa vez. Geralmente dava certo na UFRGS...

Enfim, saí da prova como se tivesse levado um soco no estômago. Teve gente que saiu chorando. Outros ficaram 10 minutos na sala de aula e desistiram. Pelo menos eu respondi todas as perguntas, mesmo inventando as respostas. Nunca deixo nada em branco. Tenho um distúrbio nesse sentido. Mas parece que funcionou. Tirei uma boa nota (5.0 de 6.0, o que vale um 8 no Brasil), mesmo inventando as coisas. Juro que a prova de farmacologia inteira foi sobre uma sinalização de um receptor que eu nunca vi na vida. Fiz uns raciocínios bizarros e umas deduções improváveis e escrevi sobre isso na prova toda. Inclusive inventei umas proteínas. Foi lindo. Mas parece que o professor me deu alguns pontos pela criatividade. E de resto, eu não sei mesmo. Tive a impressão de que não sabia nada na prova.

Mas claro que só soubemos dos resultados um mês depois das provas, então eu estava surtando. Ficou ainda pior porque 3 dias depois das 5 provas escritas eu teria 4 provas orais. Como eu achava que tinha levado bomba, a pressão pra ir bem nas próximas provas era ainda maior. Nunca tomei tanto café na minha vida, mas continuava com sono durante o dia e tão preocupada durante a noite que não conseguia dormir. Tive que tomar remédio pra conseguir dormir antes das provas. Também pelo fato de eu estar o dia todo dentro de casa fazendo somente tarefas intelectuais, meu corpo ficou todo desregulado, com dores musculares (principalmente no pescoço), de cabeça, e um ciclo circadiano fora de controle. Eu tinha fome em momentos inapropriados (tipo às 3h da manhã), acordava muito cedo ou muito tarde, queria dormir às 20h ou só às 2h, etc. Tentei sair alguns dias pra dar uma caminhada e espairecer, mas o tempo e a neve não ajudavam.
Como eu estava muito estressada depois das primeiras provas, acabei me dignando a ir pra biblioteca do hospital estudar com a Nicole, a Celine, a Sophie e a Laura. Eu tinha preguiça de sair de casa, mas pelo menos na biblioteca eu não perdia tempo vendo seriados, cozinhando almoço e ouvindo música. ;) Sim, eu perdia muito tempo com essas coisas, mas eu também acho que merecia um intervalo nos estudos (talvez em exagerava, mas enfim).
Foi bom estudar e conversar com elas, mas também me senti atrasada porque elas já tinham decorado quase tudo. Pelo menos um dia eu convenci a Celine em ir ao McDonalds almoçar. \o/ 


Eu ficava na biblioteca até umas 5h da tarde, depois ia pra casa relaxar e dar uma última revisada. Só que 2 dias antes das provas queimou o fusível que fornecia luz pro meu quarto. Que beleza! Não conseguia mais estudar em casa... ¬¬
Um dia antes da prova fui estudar na casa da Ana Sofia. Revisamos quase toda a matéria, reclamamos da vida e dessas provas absurdas, etc. Saí de lá umas 8h da noite e fui me preparar pra prova às 8h da manhã do dia seguinte. Apesar de ser em ordem alfabética (por sobrenome), eu fui a primeira porque não estaria em Lausanne no dia em que seria minha prova pela ordem alfabética. Então, algumas pessoas tiveram prova 4 dias depois de mim, ou seja, tiveram 7 dias pra estudar em vez de 3. Injusto, não? Revoltante, no mínimo. Não só por mim, mas por todos os outros que fariam suas provas nos primeiros dias.


Enfim, eu peguei duas perguntas de uma pilha. Uma das perguntas era sobre biologia celular e outra sobre metabolismo. O resto das matérias que eu estudei não foram perguntadas! Estudei por nada. Que ódio. 
Eu sabia responder aquelas perguntas, mas não sabia as perguntas extras que os professores fizeram. Claro que eu dei umas voltas bonitas: já que eu tenho mais conhecimento de laboratório que os meus colegas eu conseguia improvisar melhor na metologia se eu não soubesse a resposta exata. Eu tive a sensação de que passei, mas que não tinha tirada notas muito altas (até porque eu falei pro professor que eu ia dar o nome que eu quisesse no meu camundongo geneticamente modificado se eu que o tinha produzido - isso porque eu não fazia ideia do nome comercial dele). Enfim, tirei uma nota incrivelmente alta: 5.5. Milagres acontecem.  

Minha nota prática também foi boa: 5.5. Nessa contava tua qualificação de mestrado, meu trabalho no laboratório, teu relatório final de pré-mestrado e a apresentação no Journal Club da classe. 

A pior parte foi depois das provas. Ter que esperar os resultados foi massante. Primeiro dia disseram que iam ser entregues dia 2 de fevereiro, depois dia 4, então recebemos um e-mail dizendo que seria dia 11. Foram entregues dia 13. E nisso nós ansiosos, checando o portal do aluno a cada 30 minutos. Quando finalmente saiu o resultado, eu estava em Zurique com a Sarah, a Gerda e a Laura num simpósio. A Sarah deu um berro no meio da palestra depois de checar a internet e nós tivemos que sair pra checar os resultados. Que ansiedade! Que nervosismo! A Laura e a Gerda achavam que tinham reprovado e a Laura começou a chorar, mas no final todas nós passamos! Comemoramos alí mesmo no final do congresso, na hora do coffee-break de encerramento do simpósio. Que alegria! Que alívio! Ontem também comemoramos na casa da Nicole e da Celine, com uma pequena festa... 



Nesse semestre, prometo tentar não deixar pra estudar na última hora... Bom, se bem me conheço isso não vai funcionar. Eu trabalho melhor sobre pressão. Mas vamos ver. Ano novo, semestre novo, novas esperanças. Ainda tenho esperança de ser uma aluna melhor, mas eu não nasci pra estudar. Quero mesmo é ficar no laboratório. \o/

Que comece o semestre!