Oi, pessoal!
Quem acompanhou nas redes sociais sabe que eu me inscrevi para uma bolsa de doutorado 2013-2017 no centro de pesquisa em câncer da Universidade de Cambridge (parte do Cambridge Research UK). Na classificação por currículo fiquei entre os 5 melhores e ganhei uma viagem com tudo pago para Cambridge. Claro que eu não sou boba e estendi o final de semana para conhecer um pouco de Londres com minhas amigas Cèline e Laura. Foi ótimo! Londres realmente é uma cidade linda!
University of Cambridge *-* |
Minha entrevista foi dia 13 de maio, uma segunda-feira, ou seja, logo depois de uma semana inteira com 14 provas finais da universidade.Eu estava morta no final de semana, e foi só então, no meio de passeios turísticos, compras e etc, que eu comecei a preparar minha apresentação para a seleção de doutorado. A bem dizer, eu fiz e ensaiei a apresentação domingo de manhã e no trem a caminho de Cambridge (informação de utilidade pública: 45 min de viagem, 22 libras).
Bom, eu estava nervosa, como vocês podem imaginar. Minha entrevista começava às 9h30, então saímos de casa por volta das 7h, pegamos o metro e o trem às 7h45. Chegamos no instituto por volta das 9h10. Bem a tempo.
Todas as entrevistas no instituto têm uma estrutura pré-programada. Minha agenda era assim:
9h30-10h: entrevista com a diretora do programa de pós-graduação de Cambridge.
10h-10h30: entrevista com orientador de um grupo de pesquisa aleatório de Cambridge.
10h30-11h: entrevista com outro orientador.
11h-11h30: entrevista com um terceiro orientador aleatório.
11h30-12h30: apresentação de 20 min para o laboratório em que me inscrevi. Logo após a apresentação, os orientadores se retiram e os alunos do laboratório têm uma conversa informal sobre o teu trabalho.
12h30-13h: entrevista com o orientador onde você se inscreveu.
13h-14h: reuniões individuais com cada membro do laboratório, afinal, é com eles que você vai trabalhar lado a lado todos os dias.
Minha primeira entrevista foi tranquila. São perguntas padrões sobre o teu passado, presente e futuro. Coisas do tipo "qual a tua motivação?", "por que você quer estudar aqui", etc. Me saí super-bem nessa parte.
As entrevistas com os outros orientadores são bem importantes. Eles têm voto de peso na sua aceitação ou recusa. Eles basicamente vão perguntar sobre o que você quer ser em 15 ou 20 anos (como se eu soubesse o que vou fazer semana que vem ¬¬), mas eles também estão interessados em saber se você reage bem sobre pressão: eles podem te perguntar algo sobre a pesquisa deles (que eu não tinha a menor ideia) ou sobre algum tópico aleatório em pesquisa. Isso é pra avaliar também sua capacidade de adaptação, conhecimento geral sobre ciência e rapidez em fazer associações complexas entre o tópico de pesquisa deles e o seu projeto atual ou anterior em pesquisa. Também me saí muito bem nessa parte. Como eu trabalhei com desenvolvimento de mutantes condicionais anteriormente e tenho um background forte em genética, não tive problemas em propor estratégias diferentes para os projetos.
Em seguida foi minha apresentação. Estar de frente com o grupo e com a orientadora que oferecia a bolsa foi assustador. Minha apresentação de 20 min terminou em 11. Eu falei rápido, mas eles também já conheciam uma técnica principal do meu estudo, então não perdi tempo explicando, mas claro que eu podia ter ido mais devagar. A conversa sobre a apresentação com os alunos do lab foi tranquila também. Não houve muitas perguntas, já que eles não trabalham com ciclo celular diretamente.
A entrevista com a orientadora principal foi tensa. Depois da minha apresentação, percebi que não havia me preparado para essa entrevista especificamente. Dito e feito: ela me perguntou e me pediu pra desenhar várias estruturas do centrossomo e do cinetócoro, estruturas necessárias para a divisão celular. Tive que resgatar memórias do inicio da minha graduação. Consegui enrolar, mas podia ter sido muito melhor. Eu já sabia que é importante se preparar antes de uma entrevista dessas. Pra conseguir meu mestrado, por exemplo, eu estudei os papers mais recentes do meu grupo de pesquisa atual. Portanto, pessoal: sempre se prepare para entrevistas acadêmicas. Estude. Pense previamente no que você vai responder até para as perguntas mais óbvias, como "quais são seus ponto fortes/fracos?", "do que você tem mais medo na carreira acadêmica?", "qual seu plano caso não consiga uma bolsa de doutorado/pós-doutorado?". Portanto, meu "pior" desempenho foi justamente em uma das partes mais importantes. Já era esperado. Eu realmente não tive tempo de estudar biologia celular entre uma prova e outra.
Finalmente, eu conversei individualmente com cada aluno e pós-doc do lab. Eles me contaram sobre seus projetos e também conversamos sobre coisas banais para descobrir se "nossos Santos batem". Eu particularmente gostei dessa parte. São pessoas muito queridas, animadas e empolgadas com o que fazem. Acho que também consegui deixar uma boa impressão.
The end. Agora era voltar para a cidade, pegar o avião de volta a Genebra e esperar pelo resultado.
Mais ou menos 10 dias depois o esperado e-mail chegou. Isso geralmente demora muito mais, por volta de 3 ou 4 semanas, mas como era um edital especial, o resultado saiu antes. Eis a pontuação final, onde eu fiquei em 2º lugar de um total de mais de 400 candidatos (mas somente 5 chamados para entrevista):
L.H.: 99.86
P.R.N.: 99.74 (eu)
L.A-C.: 98.02
O.T.: 97.46
J.S.: 97.10
Como vocês podem ver, nenhum dos candidatos veio até Cambridge pra perder. As notas finais foram todas extremamente altas e certamente qualquer um deles teria se dado bem no laboratório e no programa.
Não, eu não passei, já que havia somente uma vaga. Mas sim, eu me sinto vitoriosa. Cheguei longe e fiquei muito perto de passar mesmo sem ter me preparado para a entrevista. Certamente na próxima vez, seja na EPFL, seja em Cambridge, eu vou me sair 10 vezes melhor, ficarei menos nervosa e preparar-me-ei para o que der e vier.
O mais importante dessa história: eu estudei em São Leopoldo, mas não no colégio mais famoso por colocar alunos na universidade, fiz graduação na UFRGS sem publicar 10 papers, sem ganhar grandes prêmios de pesquisa e sem ter que atropelar ninguém pelo caminho. Hoje estudo em uma universidade muito boa, mas que não está entre as top 10. Continuo sem ter publicado nenhum livro ou artigo significante. Mesmo assim, tenho bastante confiança de que, quando minha hora de terminar o mestrado e entrar para o doutorado chegar, eu vou conseguir. Só depende de mim. Só depende de você. Se você quiser, você também consegue. Seja honesto, ético e justo com seus colegas. Foque no seu trabalho sem desejar infortúnios ao seu concorrente. Sorria e seja grato pelo que você já conquistou, pelos seus amigos e pela sua família. O resto é o consequência. A vida se encaixa nos seus sonhos. Não faça com que seus sonhos se encaixem na sua realidade.
Para finalizar:
Obrigada a todos aqueles que me ajudaram a vir tão longe, em especial à minha querida prima Priscila Brust Renck e às minhas amadas conselheiras de pós-graduação Alessandra Martini e Stefânia Forner!
Eu já digo que foi marmelada e que você é a grande vencedora, se não do concurso, da vida, minha amiga ;)
ResponderExcluirParabéns e um beijo grande com muitas saudades!