quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Aventuras no Rio

A pedido de uma grande amiga, a Mary, que recentemente está passando por uma fase difícil, vou atualizar o blog com uma atualização não muito atualizada.
Vocês tem que me dar uma folga, né, gente! São as últimas férias da minha vida! 

Logo depois que cheguei no Brasil, em julho, já parti pro Rio de Janeiro pra fazer um curso de microscopia na UFRJ e aproveitar pra participar do congresso internacional de biologia celular (ou será que foi ao contrário? o.O enfim).

Chegar numa nova cidade é sempre um desafio. Ainda mais quando estamos falando de uma cidade grande, como o Rio de Janeiro, cidade sede de eventos olímpicos e da copa que está por vir. Devido à proximidade desses eventos, pensei eu, humilde moradora de São Leopoldo,  que não seria muito complicado me localizar no transporte público da capital.
Cheguei perto das 11h da noite de um domingo no aeroporto internacional (“Galeão”, para os íntimos) após quase 2h de um congestionamento danado (aqueles que acontecem perto da PUCRS no primeiro dia de aula) na pista de pouso tamanha era a lotação (leia-se desorganização) do aeroporto. Os taxistas disponíveis para levar os recém-chegados para a zona sul estavam cobrando entre R$100 e R$150 a corrida, que deveria levar em torno de 20 minutos. Como eu estava indo pra Botafogo, não pra Minas Gerais, resolvi que não ia contribuir para o crescimento da máfia da Linha Vermelha.  Fiquei quase 50 minutos esperando pelo ônibus “Frescão”, que custava 10% do valor cobrado pelos taxistas. Pelo que entendi de conversas cruzadas com o motorista, os 2 ônibus anteriores não passaram porque os motoristas decidiram ir embora (estava muito frio: 18ºC). Esse tipo de transporte não permite a viagem de passageiros em pé, mas com a ameaça de destruição do veículo pelos passageiros que seriam abandonados pelo último ônibus da noite, tudo se resolveu com muito diálogo (ou gritos). Só não tinha gente no teto porque o ônibus não ia conseguir passar por baixo do viaduto, segundo o motorista.
Finalmente cheguei em casa após uma viagem de quase 1h30, já que o ônibus parava em cada esquina pra um sujeito descer (e claro que o vivente ainda tinha que pegar malas no bagageiro). Dormi 4h antes de embarcar em outra luta pela locomoção.  
Segundo a maior autoridade em transporte público do mundo (GoogleMaps), havia um ônibus que me levaria em 1h10 ao meu destino, na ilha do Governador.  Cheguei à parada de ônibus (aqui conhecida como “ponto”), 1h30 antes do horário do meu compromisso. 45 minutos depois e o tal ônibus não passava. Resolvi usar meu plano B: um ônibus que me deixava na ilha, meio longe do prédio onde eu deveria estar, mas naquele momento estar a 5 km do meu destino pareceu melhor do que 40 km.
O mais interessante, no entanto, era que o aquele ônibus (sempre vazio) passou 2 vezes num intervalo de 40 min, mas simplesmente resolvia não parar naquele “ponto”, apesar de a informação na tabela ali localizada, dizer o contrário. “Ih, moça, você não vai conseguir pegar o ônibus assim, não! Tem que avançar no meio da rua e se parar na frente do carro pro motorista parar. Só cuida que às vezes eles não param nem assim.”, informou-me uma moradora local. Munida de novas técnicas, consegui subir no próximo ônibus (novamente vazio, provavelmente porque ele realmente ainda não havia encostado uma só vez). Minha surpresa foi com o preço da tarifa. E eu reclamava de Porto Alegre. Peguei uma nota de vinte para pagar e a cobradora quase me expulsou do ônibus. Imagina o que ela faria se eu tivesse entregado a única outra nota que eu tinha, de 100 (já que meu paitrocinador afirmou veemente que 130 reais são mais que suficientes para 14 dias no Rio).
A viagem de ônibus foi mais como uma corrida maluca. Curvas em alta velocidade (segundo moradores, capotagens são muito comuns por aqui), travessias em sinal vermelho (às 8h da manhã de uma segunda-feira) e realmente o motorista só parava quando estava a fim. Num certo momento, ele encostou o ônibus e desceu com a cobradora para tomar um café e um sanduíche em uma lanchonete. As pessoas das paradas de ônibus próximas subiram e ficaram esperando a volta dos dois na “catraca”. Olhei em volta pra ver se eu era a única a achar que aquilo não estava certo. Sim, eu era.
Depois de uns 10 minutos (que no fuso horário de “muito atrasada” pareceram horas), retomamos o trajeto. Continuamos até que o motorista desceu pra fazer o jogo do bicho (uma fézinha nunca é demais).
As próximas manobras altamente habilidosas do motorista foram passar constantemente sobre as calçadas de pedestres nos retornos e quase entrar na contramão. Duas vezes.
Meio tremendo, cheguei ao meu destino. Contei a história para meus colegas, apavorada, e eles me acalmaram contando histórias cotidianas muito piores, como a dos motoristas que não param quando você solicita (se só você vai descer é muita perda de tempo parar e engatar a primeira marcha de novo) ou de algumas linhas que simplesmente não tem itinerário. O motorista vai por onde ele quer, às vezes tem que deixar algo na casa de uma sobrinha e passar por lá no caminho, ou tem que pagar uma conta, ou quer evitar o congestionamento, ou simplesmente resolve fazer um caminho diferente para não entediar o pessoal.
Depois dessas informações altamente reconfortantes, lembrei-me de um colunista de Zero Hora: “Não há o que não haja”. Só fico pensando que, se eu passei sufoco falando quase a mesma língua dos cariocas, imagina quando os gringos chegarem pra Copa...
À noite, contei para meu pai as barbaridades do dia, mas ele prontamente me tranquilizou: “Calma guria, em duas semanas tu vai estar de volta no Primeiro Mundo”.  
Até breve (eu espero).
Pati