Aviso: eu não sou
veterinária. Meu único superpoder é a habilidade de ler artigos científicos e
extrair informações úteis que podem ser aplicadas a esse tema. Se o seu
veterinário indicou uma dieta específica para o seu pet, siga suas recomendações!
Oi galera!
Se você é um dono
bem informado, já deve ter ouvido falar a respeito das rações sem grãos e sobre
todos os supostos malefícios de uma alimentação com grãos para o seu gato ou
cachorro. Ou talvez você ainda não ficou sabendo disso. Independentemente, apertem
os cintos porque vamos discutir essa polêmica juntos, baseando-nos em estudos
científicos.
O que vamos abordar nesse artigo?
Por que as alegações contra a ração com grãos são besteira
Quais os possíveis
benefícios reais de uma dieta sem grãos
A associação da
dieta sem grãos a problemas cardíacos
Mas e os efeitos
da alta quantidade de proteína nos rins?
Fique de olho na lista de ingredientes da ração
Que tipo de ração
faz sentido comprar
Introdução
Desde 2010 para
cá, as empresas encheram as prateleiras dos supermercados e pet shops com
rações sem grãos, naturais, sem organismos geneticamente modificados e
teoricamente mais biologicamente apropriadas para os nossos cães e gatos.
As empresas que
vendem essas rações usam várias estratégias de marketing para fazer com que nós,
os pais preocupados, comprem seus produtos. Algumas informações mais usadas são
as seguintes:
1.
Os grãos
não fazem parte da dieta normal dos ancestrais dos gatos e dos cachorros (o
gato selvagem e o lobo, respetivamente).
2.
O
gato e o cão são carnívoros e devem se alimentar somente de carne.
3.
O
gato e o cão não digerem bem grãos e carboidratos.
4.
Os
grãos são responsáveis por várias doenças nos nossos pets.
5.
A
ração “normal” contém subprodutos animais, que são feitos de restos de animais,
penas, unhas, ossos, animais doentes ou mortos em acidentes.
6.
Os
grãos causam alergias.
7.
Cães
e gatos e comem ração sem grãos são mais saudáveis, tem mais energia e melhor
pelagem.
Por que as alegações contra a ração com grãos são besteira
Com um pouco de
tempo e sabendo pesquisar nos lugares certos, é fácil ver que essas afirmações
são simplesmente incorretas. Vamos por partes, como diria Jack, o Estripador.
1.
"Os
grãos não fazem parte da dieta normal dos ancestrais dos gatos e dos cachorros
(o gato selvagem e o lobo, respetivamente)."
Mesmo que os
ancestrais dos cachorros e gatos não comessem grãos, não quer dizer que os
nossos pets não podem comê-los. Se isso fosse verdade, os homens não poderiam
comer churrasco, visto que os nossos ancestrais (macacos e gorilas) comem
somente pequenas quantidades de carne na forma de insetos.
2.
"O
gato e o cão são carnívoros e devem se alimentar somente de carne."
Os gatos e
cachorros que conhecemos hoje evoluíram por milhares de anos, o que lhes deu
muitas características únicas que não existem em seus parentes selvagens. Os
caes são, de acordo com suas características genéticas, omnívoros. Ou seja,
podem comer de tudo como nós.
Os gatos ainda
são considerados carnívoros, mas não carnívoros exclusivos. Um estudo fantástico feito em 2013 pôde responder
algumas perguntas interessantes sobre a alimentação dos gatos. Por 7 dias, os
gatos receberam várias opções de comida simultaneamente. Eles foram divididos
em vários grupos, de acordo com as opções de comida que receberam:
Experimento 1: 1 opção de comida seca
(ração) e 3 opções de comida úmida (sachê)
Experimento 2: 3 opções de comida seca
(ração) e 1 opção de comida úmida (sachê)
Experimento 3: 3 opções de comida seca
(ração) e 3 opções de comida úmida (sachê)
Experimento 4: 1 opção de comida seca
(ração) e 1 opção de comida úmida (sachê)
Cada opção de comida tinha níveis
diferentes de proteína, gordura, carboidrato e umidade. Os pesquisadores
esperavam que os gatos que tivessem mais opções de comida umida (com mais
proteínas), iriam comer mais proteínas (partindo do princípio de que eles são
carnívoros). Os gatos também podiam escolher comer somente proteínas e
gorduras, já que alguns sachês tinham somente 2% de carboidratos.
Mas não foi o que aconteceu! Os gatos em
todas as dietas consumiram, em média, a mesma quantidade de proteínas, gordura
e carboidratos. Isso quer dizer que, quando tem a opção de escolher livremente
sua dieta, os gatos são capazes de regular exatamente quanto desses
macronutrientes precisam, e também escolhem
por vontade própria comer carboidratos.
Os resultados da pesquisa mostram que os
gatos preferem uma dieta com: 55% de proteína, 21% de gordura e 24% de
carboidrato.
Com esses resultados, uma coisa fica muito
clara: nenhuma ração seca é capaz de suprir 100% das necessidades dos gatos, já
que as raçoes com a maior quantidade de proteína têm, em média, 40% de
proteína. A solução? Dê sachê, patê, atum ou peito de frango pro seu gato!
3. "O gato e o cão não digerem bem grãos e carboidratos."
O experimento
descrito acima já serve para desmascarar essa ilusão. Se gatos e cachorros não
digerissem bem carboidratos, ia ser a festa da diarreia na sua casa.
Comparados com os
lobos, os cachorros têm várias copias a mais de genes que os possibilitam
digerir carboidratos. Os cães têm inclusive amilase (enzyme que digere amido)
na saliva, assim como os humanos! Durante a evolução dos cães, 10 genes foram
especialmente selecionados para ajudar nossos cachorros a digerir melhor
carboidratos e gorduras (Fonte).
Os gatos também
evoluíram para digerir carboidratos melhor que seus ancestrais, cuja dieta
consiste somente em 2% de carboidratos. Gatos conseguem digerir 40-100% dos
carboidratos, dependendo da forma como esse carboidrato é produzido. Os
cachorros têm ainda mais enzimas para digerir carboidratos que os gatos (Fonte).
Além da seleção
genética, há outras pistas evolutivas indicando que tanto gatos como cães estão
preparados para comer carboidratos: o comprimento dos seus intestinos (mais
longos para melhorar a digestão e absorção de carboidratos) e dentes molares e
pré-molares mais planos que seus primos selvagens (Fonte)
Portanto: cães e
gatos conseguem digerir carboidratos, sim senhor.
4.
“Os
grãos são responsáveis por várias doenças nos nossos pets.”
Carboidratos em quantidades
razoáveis são benéficos para os nossos pets. A glucose, produta da digestão dos
carboidratos, é fonte de energia rápida e preferida pelo cérebro dos nossos
pets (e pelos nossos cérebros também). A definição de quantidade razoável é que
é o problema. Para gatos, 25% é considerado ideal, mas há discrepância entre os
resultados para cachorros, mas parece que no máximo 50% (incluindo 2.5 – 4.5% de fibras) é recomendado (Fonte).
Entretanto, até 70% da ração canina e 50% da felina é carboidrato. 🙀
Carboidratos são
digeridos e absorvidos como glicose (“açúcar”) e vão parar no sangue. A rápida
digestão e absorção de glicose levam ao aumento muito rápido da glicose no
sangue que, se não utilizada rapidamente pelos músculos para correr ou brincar,
acaba sendo armazenada na forma de gordura. A queda na quantidade de glicose no
sangue leva o animal a sentir fome novamente e o ciclo continue. Isso causa o
aumento de peso, diabetes, reumatismo, doenças cardíacas e renais, etc.
Estima-se que mais de 50% dos animais de estimação em países industrializados
sejam obesos ou tenham sobrepeso. As proteínas são digeridas, absorvidas e, se
necessário, convertidas em energia muito lentamente, levando a uma concentração
de glicose mais constante no sangue e gerando saciedade mais longa.
Mas o que os grãos
têm a ver com isso?
Grãos são
carboidratos e por isso considerados vilões de tantas doenças. Muita gente
acredita que dando ração sem grãos para seus pets eles estarão consumindo menos
carboidratos. ENTRETANTO, isso não é verdade. A ração sem grão pode ter até
mais carboidratos que a ração normal. Isso porque os produtores
simplesmente substituem o grão por outro carboidrato, como a batata, cenouras e
abóbora. Por que não substitutir os grãos por proteínas? Por duas razões: (1) o
produto fica mais caro, e (2) não é possível fazer uma receita com muita
proteína virar os pedacinhos de ração seca que conhecemos sem adicionar ainda
mais ingredientes artificiais.
A solução? Dê
sachê, patê, atum ou peito de frango pro seu pet! Essas comidas contêm
pouquíssimo carboidrato e muita proteína.
5.
“A
ração “normal” contém subprodutos animais que são feitos de restos de animais,
penas, unhas, ossos, animais doentes ou mortos em acidentes.”
Sim. E não.
Tanto
a ração com grãos quanto a sem grãos pode conter subprodutos animais. PONTO.
Os subprodutos
não são necessariamente vilões, pois contêm:
· Farinha de sangue: rica em proteína e
ferro.
· Farinha de ossos: rica em cálcio e
fosfato.
· Vísceras: ricas em proteínas e gorduras.
· Cérebro: rico em ômega-3.
· Carcaças: mistura dos itens citados acima,
ricas em proteínas.
O que assusta os
pais de pets é a possível presença de penas, unhas, bicos, animais mortos nas
estradas ou eutanasiados por estarem doentes. Vamos por partes:
Unhas e bicos estão realmente presentes nos subprodutos, mas se
você imaginar uma galinha vai notar que as unhas e o bico compõem uma percentagem
bem pequena. As unhas e os bicos também são ricos em queratina, uma proteína
(depois de reclamar dos subprodutos animais você vai lá e compra creme
anti-rugas com queratina). 😜
Animais mortos nas estradas: você já imaginou se o DNIT fosse pegar
todas as vacas, cachorros, gatos, cobras, ratos e guaxinins que são atropeladas
nas estradas brasileiras e os levasse para camara de refrigeração para depois
vender esses animais para as fabricas de raçao? É muita mão. Isso não acontece.
E não é permitido.
Animais eutanasiados: sim, isso existe em pequena proporção.
Provavelmente o seu veterinário de bairro não vende as carcaças para a
indústria da ração, mas quando da grande mortandade de gado ou galinhas, por
doença ou desastre natural, isso pode acontecer. Não sei se isso acontece com
frequência no Brasil. Nos Estados Unidos, sabe-se que algumas clínicas e
hospitais veterinários maiores vendem as carcaças para produção de ração. Em
2018 houve um grande escândalo, com várias marcas de ração sendo recolhidas
após o FDA encontrar pentobarbital (anestésico usado também para eutanásia) em
amostras de comida de cachorro.
Apesar de parecer
que os subprodutos incluem todos os “restos” da produção de carne para consumo
humano, eles não podem conter animais mortos nas estradas, dentes, cascos, chifres,
fezes ou pelos.
Muitos
pais de pets não querem comprar comida com subprodutos animais, mas essa é a melhor
maneira de se “reciclar” alguns restos da produção de carne. Os subprodutos
contêm muitos minerais e nutrientes que a carne de músculo não nos proporciona.
E imaginem se tivéssemos que criar gado e frango para alimentar todos os 600
milhões de gatos e 900 milhões de cães no planeta somente com carne?
Além disso, vocês
já viram um gato comendo um camundongo? (Procurem no YouTube). Ele come absolutamente tudo, incluindo
as vísceras e ossos. Portanto, os subprodutos podem ser parte de uma dieta
saudável dos nossos pets.
ENTRETANTO, os
subprodutos animais contêm menos proteína, ferro e taurina (um aminoácido
essencial para os gatos) que o músculo esquelético ("carne"). Os gatos, ao contrário dos
cachorros, não conseguem produzir taurina e dependem da presença desse
aminoácido na sua alimentação. Por isso, muitas raçoes contêm taurina na sua
formulação, principalmente se não contiverem carne de boa qualidade (somente
subprodutos). Rações com carne alta quantidade não necessariamente terão
taurina adicionada, então fique de olho na lista de ingredientes.
Eu
particularmente não fujo dos subprodutos animais, mas não compro produtos em
que os subprodutos são o principal (primeiro) ingrediente pois a carne dos músculos
(e a taurina de origem natural) também é muito importante para os gatíneos e
cachoríneos.
6.
“Os
grãos causam alergias”.
De todos os cães
alérgicos à alguma coisa, somente 10% deles são alérgicos a alguma comida. É
muito mais comum seu bichinho ter uma alergia a pulgas, grama, poeira, ou outro
componente do seu ambiente.
Os ingredientes que mais causam alergias
alimentares nos cães são (nessa ordem): carne bovina, derivados do leite, ovos,
frango, cordeiro, soja, porco, coelho e peixe. Nos gatos, a ordem é a seguinte:
carne bovina, derivados do leite, frango, ovos, milho, trigo e soja. Ou seja, é
muito mais provável que seu animal pet tenha alergia a um produto animal do que
aos grãos. Antes de sair procurando uma ração sem grãos para a suposta alergia do seu
bichano, consulte um veterinário porque alergia a grãos é algo extremamente
raro. A raça do seu cão também é fator importante na determinação do tipo de
alergia: algumas raças são mais suscetíveis que outras a alergias alimentares.
7.
“Cães
e gatos e comem ração sem grãos são mais saudáveis, tem mais energia e melhor
pelagem”.
Eu nem sei o que
responder a declarações desse tipo. Espero que até aqui tenha ficado claro que
um pet que come proteína *animal* (proteína de milho e arroz não vale!) em
quantidade e qualidade suficientes, que não se entope de carboidratos, que
mantém um nível relativamente estável de glicose no sangue e recebe todos os
nutrientes e minerais que precisa, vai ser saudável, ter energia e boa pelagem.
Isso acontece independentemente da presença ou não de grãos na sua dieta. Do
mesmo modo, um pet que come somente carne pode ter problemas como falta de
cálcio, fosfato, ômega-3 e vitaminas (até por isso se aconselha dar suplementos para cães e gatos em dietas de carne crua exclusiva).
Os possíveis
benefícios reais de uma dieta sem grãos
1.
Baixo
teor de carboidratos:
Em geral, a raçao
sem graos possui menos carboidratos do que a raçao com graos. Mas atenção: há exceções
A parte difícil é
saber exatamente quanto de carboidrato uma ração tem. Vocês já perceberam que
os carboidratos não estão listados na composição da ração? Para calcular essa
quantidade, então, deve-se somar todos os outros nutrientes e ver o que falta
para que a composição seja 100%. Exemplos:
Ração Royal Canin
Gatos Indoor
Proteinas (25%) +
umidade (8%) + Extrato Etéreo (gordura, 11%) + fibras (4.9%) + matéria mineral
(8.1%) + minerais e vitaminas (<5%) = 62%. Isso quer dizer que há
aproximadamente 38% de carboidratos nessa ração, acima dos 25% recomendados.
Se combinada com
um sachê de alta proteína e baixo carboidrato todos os dias, essa rçao pode
fazer parte de uma dieta saudável, embora eu prefiro uma ração com mais
proteínas.
Farmina N&D
Prime Feline Frango e Romã (sem grãos)
Proteínas (44%) +
umidade (8%) + Extrato Etéreo (gordura, 20%) + fibras (1.8%) + matéria mineral
(8.5%) + minerais e vitaminas (<5%) = 87.3%. Isso quer dizer que há
aproximadamente 12.7% de carboidratos nessa ração, abaixo dos 25% recomendados.
Essa ração está no outro extremo da balança e eu não a usaria exclusivamente
por longos períodos. Mas essa marca contém muitos ingredientes de alta
qualidade, então por que não misturar com outra ração contendo mais
carboidratos?
Você também pode
procurar e comprar uma ração com 30-40% de proteínas e 20-30% de carboidratos.
2.
Ingredientes
mais nobres
Via de regra, a ração sem grãos tende a ser mais “natural”,
com menos conservantes e corantes, e conter menos (ou nenhum) subproduto
animal. A presença de ingredientes associados ao câncer (veja abaixo) é também,
via de regra, menos frequente nesses
produtos. Mas vale a pena ficar de olho nos ingredientes mesmo assim.
3.
Possibilidade
de controlar alergias
Como discutimos
anteriormente, alergias alimentares são muito raras. Porém, em casos
confirmados de alergia a algum ingrediente, é possível encontrar mais
alternativas de ração sem esse ingrediente em raçoes sem grãos. Não estamos
falando simplesmente em alergias contra o milho ou soja, mas também contra
carne bovina ou de frango. É mais comum encontrar raçao à base de coelho e
búfalo nas variedades sem grãos.
Associação da
dieta sem grãos a problemas cardíacos
Em julho de 2018
o FDA (Food and Drug Administration nos EUA, que seria correspondente à ANVISA
no Brasil) lançou um alerta sobre a possível associação entre raçao sem grãos e
cardiomiopatia dilatada em cachorros nos EUA. Em junho de 2019 o FDA publicou
um relatório (não um estudo)
mostrando o caso de 560 caes e 14 gatos com essa doença. A vasta maioria dos
animais afetados consumiam raçao sem grãos (>90%), embora alguns consumissem
raçoes de marcas que contém grãos, como Hill’s e Purina One.
A origem da
doença é obscura e é provável que nunca encontremos o que está causando a cardiomiopatia.
Os maiores suspeitos são os ingredientes exclusivos de dietas sem grãos, como
ervilhas, lentilhas, grão-de-bico, sementes e outros legumes. Há também a
possibilidade de que seja causada por desequilíbrio na quantidade de alguns
aminoácidos (partes que formam as proteínas). O FDA ainda não sabe exatamente a
causa da doença e não há motivo para pânico.
O que eu notei
lendo esses relatos de caso, é que a maioria dos animais estava na mesma dieta
(comendo sempre a mesma marca de ração) por muito tempo (anos!). Entao vou
passar aqui a recomendação de TODOS os veterinários que já visitei:
Não há
uma ração perfeita. Todas têm excesso ou falta de algum nutriente ou mineral,
até porque cada raça e indivíduo tem suas próprias necessidades. É importante
variar a marca da ração para compensar essas diferenças e para que esses
excessos ou deficiências não virem problemas crônicos.
Assim, meus gatos recebem uma ração diferente a cada 2 ou
3 meses. Isso também evita com que eles fiquem “chatos” e só comam uma marca ou
sabor específico.
Mas e os efeitos
da alta quantidade de proteína nos rins?
O maior discurso
das pessoas que são contra a ração sem grãos é dizer que alta quantidade de
proteína na dieta leva a problemas renais em cães e gatos.
Primeiramente,
vamos relembrar que a ração sem grãos não contém necessariamente mais proteína
(ou menos carboidrato) do que a ração com grãos (afinal, grãos também tem
proteína).
Segundo, não há
evidencia nenhuma de que o consumo de dieta rica em proteínas (mais de 40%)
causa problemas renais em cães ou gatos. Repito: hoje, ano 2020, não há
evidencia nenhuma de que o consumo de dieta rica em proteínas (mais de 40%)
causa problemas renais em cães ou gatos.
Estudos que
compilam vários estudos passados sobre o assunto (exemplo),
mostram que, mesmo após 4 anos comendo ração com alto teor de proteína, cães
não apresentam mais problemas renais que aqueles que comem poucas proteínas. A
doença renal é multifatorial e não causada simplesmente pela dieta. Mas isso
também não é desculpa para dar qualquer ração muito baratinha para o seu pet! A
própria diabetes, que pode ser causada por raçoes com muito carboidrato, pode
causar problemas renais.
Em gatos, vários
estudos também sugerem que não há relação entre quantidade de proteína na dieta
e declínio da função renal. Nesse estudo, gatos saudáveis que receberam uma dieta com 58% de proteínas tiveram um
aumento nos marcadores da função renal (albumina, ureia no sangue e ALT) em
comparação com gatos na dieta com 28% de proteínas. Mas o aumento foi pequeno,
dentro dos parâmetros normais e **esperados** como consequência do maior
consumo de proteína.
Talvez seja
benéfica uma dieta com menos proteína em animais já que tenham problemas
renais. Esse estudo mostra que limitar
o consumo de proteína pode diminuir a progressão de doença renal (causada
artificialmente em laboratório) em gatos, mas esse outro estudo discorda e diz que não faz diferença
nenhuma.
Pelo sim e pelo
não, siga as recomendações do seu veterinário se seu pet estiver doente. A ração
para problemas renais é muito mais que uma ração com pouca proteína e o melhor
tratamento disponível: ela regula o pH do xixi, estimula a ingestão de mais
água e limita a quantidade de fósforo e outros minerais que influenciam a
formação de cristais na urina. Se seu pet for saudável, não há razão para fugir
da ração com alto teor proteico, desde que a quantidade de outros nutrientes
seja adequada.
Fique atentos aos
ingredientes!
Aos invés de
procurar por uma raçao sem graos, o melhor que você pode fazer pela nutrição do
seu animal é ler a lista de ingredientes.
Ingredientes a
evitar:
· Milho, soja e trigo – produtos muito
baratos com pouco valor nutricional em termos de qualidade de proteína e com
alta quantidade de carboidrato. São usados para “encher” a ração, aumentar a
quantidade proteínas em usar carne e tornar o produto mais barato.
· BHA, BHT e Etoxiquina – conservantes e
possíveis cancerígenos. Podem causar danos aos rins e fígado.
· Carrageninas – uma goma usada principalmente
em patês e sachês em geleia para dar consistência ao produto. Pode causar
câncer.
· Corantes artificiais – nem sempre dá pra
evitar, mas é melhor não ter.
Ingredientes a
querer:
· Taurina: não é um ingrediente obrigatório
se a qualidade da proteína principal usada na ração é excelente (carne de
músculo), mas é bom ter.
· Vitamina C e E: podem ser usadas como
conservantes em vez do BHT e BHA. A vitamina C pode estar listada como ácido
ascórbico.
· Metionina ou DL-metionina: a adição de
baixas quantidades desse aminoácido essencial é usada para acidificar a urina e
prevenir alguns tipos de cristais. Também não é um ingrediente obrigatório.
Que tipo de ração
“especial” faz sentido comprar?
Até agora estabelecemos
que o melhor é realmente variar a ração do seu cão e gato, sempre incluindo
também a comida molhadinha, como os sachês. Não se deixe enganar pela embalagem
e pelas promessas do produto! O melhor mesmo é comprar uma ração de boa
qualidade e variar as marcas.
Porém existem
momentos em que comprar uma ração especifica pode ser beneficial para os pets.
Por exemplo:
· Ração para problemas urinários: essas rações
realmente funcionam e previnem a formação de certos tipos de cristais na urina.
Devem ser usadas somente com recomendação do veterinário, pois o uso desnecessário
pode causar problemas renais.
· Ração para diminuir a formação de tártaro dentário:
os pedaços desse tipo de ração são grandes e ajudam a polir os dentes e diminuir
a placa. Problemas dentários só podem ser totalmente evitados com escovação diária,
mas esse tipo de ração diminui a velocidade da acumulação de tártaro.
· Ração para o controle de peso: tem menos
calorias por grama de ração e dão mais saciedade, mas não funciona se você deixar
o animal comer descontroladamente. Na realidade, se você der a quantidade
recomendada de qualquer ração de boa qualidade (com poucos carboidratos) e estimular
o seu animal a se exercitar, essa ração é desnecessária.
· Toda ração recomendada pelo seu veterinário
para algum problema de saúde do seu pet.
Cuidado ao
comprar uma ração especifica para a raça do seu gato ou cachorro. Muitas vezes você
acaba pagando mais sem necessidade. Pergunte a opinião do seu veterinário de
confiança!
Conclusão:
Espero que esse
artigo tenha ajudado a esclarecer algumas dúvidas sobre a ração com e sem grãos
e ajudado você, pai de pet, a fazer boas escolhas no pet shop. 😊